Canto sob o papel de arroz.
Entre as mechas dessas cortinas
incenso o meu cio,
sob o tabernáculo da neblina.
Tudo me é espuma aos sentidos,
acústica de silêncios, os alaridos,
porque o sol daquele que não
te conhece está no ocaso,
mas, o do que te conhece
brilha incessantemente,
porque Hórus abre os seus olhos.
Sob os véus, no colo sagrado de Maat
grita um bando de íbis brancas,
sob a face irrevelada.
O santuário pode estar
envolto em trevas,
sob a pastagem da erva do tempo,
mas, na terra, o fôlego é pira!
Arte em todas as formas de linguagem é graça e poder do espírito para recriar-se, luz que emana de única fonte!
domingo, 30 de dezembro de 2007
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA /NA OLARIA AS TRILHAS DO PEABERU

uma palavra uma vez imolada,
meu pai, grande caboclo meu pai,
de botas longas, de longos estribilhos,
de carregadas tropas de versos, de minha
mãe, filha de imigrantes, destemida,
de pequeninas mãos em forma de berço...
...na capelinha da estrada abandonada me ajoelho,
escuto a santinha, desfolha-me no sangue o terço...
O CAMINHO MULTIPLICADO
Pedras, árvores, pão de torrentes,
todo reino morto sobrevive
se os candeeiros acenderem-se
sob as lufadas da tua memória.
Na olaria, no fundo da América,
no fundo de mim, no fundo de ti,
o múrmurio do relâmpago,
o trovão do regato,
da luz da pedra, uma chuva
de uma noite em ameríndia
e negra taça da bebida
do mesmo idioma de uma só raça,
na minha pele, na tua pele,
o mesmo corpo rasgado,
pelas trilhas dessa terra,
nossos caminhos multiplicados.
Trilha funda do guerreiro,
do nativo com suas "noites de jacarés",
com oito palmos de largura
e cinco mil quilômetros de extensão
desde o Atlântico até os Andes,
caminho de São Tomé!...
Só a lavra de teus passos
caminheiro,
escreveram e ainda escrevem
pelo chão do verso e do reverso desta terra,
a escrita de água magna,
desses pré-colombianos magmas.
Trilhas do sol de gramináceas sementes,
que glutinosas grudavam
sob os pés dos passantes,
e se multiplicavam com
os passos do caminhante...
Germinou e germina ainda,
o sonho e a lavra dos viajantes,
carrega as quimeras errantes,
lapida os vasos das cozinhas,
reacendem as grimpas
e o carvão anoitecido
da lenha dos fogões,
com suas brasas das funduras das minas,
das sinas, do corpo e da alma, da mente,
rechaça as turbas fechadas
da alcoolica selva da desmemória.
A trilha abriu o corpo nosso,
osso, fosso, continente,
multiplicando pão, peixes,
dores, sementes, muralhas.
Onde ficam os descobridores da América,
se testemunharam as aberturas das trilhas do sol,
o mesmo sangue vegetal dessas auracanas araucárias,
que alimentaram com seus frutos, pelos caminhos,
os nativos
e históricas sentinelas
com suas eriçadas lanças insepultas,
erguem-se guerreiras,
ainda hoje,
pelos mesmos vales e colinas,
desde ontem testemunhas,
multiplicadas?
Sob o anel do tempo,
não dormem as trilhas vivas
da memória,
sempre inacabadas...
FELIZ ANO NOVO!!!
FELIZ TRILHA DO SOL DE 2008!!!
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA/A CABANA
a candeia acende a cabana.
Uma gravura no horizonte e
a noite se faz lendas
na planta da alma.
Mas, a cabana é de aço
nesses lençóis do pensamento,
luz neón da negação cósmica,
de uma urbana noite lendária,
e da rocha desses porões
a água parada faz poças
no rosto do asfalto.
A água é negra e bolha
o ar e a superfície do sonho.
Se volto a sonhar faço escalas
de subidas,
e a cabana brilha e me vê!
P.S ...folheando esses manuscritos de Páginas da Aldeia
o agradecimento desta aldeã ao BLOG LETRAS DE MORANGO, REVISTA RAW ,
(Revista dos Amigos Web)
do espaço GLOBOONLINERS, à escritora Madalena Barranco, Carlos Senna
desde aqui da Olaria, VERBO AD VERBUM, o verde verbo de raízes!
sábado, 8 de dezembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA/O SOM DO GRANDE TAMBOR
à grande mesa da Olaria
da sala do Ser e Estar,
onde o Verbo de cada dia
canta e conjuga o pão nosso,
ouvem-se ecos ...
é o som do grande tambor!
Há milênios dobram os sinos
pelos campanários,
sinos solitários,
que gritam a grande fome
e a dor do verbo Homem!
Mas, parece que não há
hora primeira,
nem hora derradeira,
quando o Verbo cansado
chega ancião disfarçado
e adormece na manjedoura
do homem-interior.
Acontece apenas,
o milagre da semente,
que no estábulo das noites escuras
da mente,
nasce NOITE FELIZ,
renascendo sempre da dor!
FELIZ NATAL!
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (na Olaria hij)
terça-feira, 27 de novembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA ( NA OLARIA)
sábado, 24 de novembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (JANELA ENDUENDADA)
Do Barro do Teu Barro...
O aroma de todas as coisas,
a volúpia, os caracóis,
os pomos maduros da carne.
Do barro do teu barro,
o velho escultor de sementes,
sob a luz e o cinzel da alma
entalhou a nudez do crente.
No barro do teu barro
arrebentou- se a semente,
a dor pariu-se,
e o amor como metamorfose
fez-se obra, em sarça ardente!
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (na Olaria)
PÁGINAS DA ALDEIA ( VIIIA)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (NA OLARIA J33)
PÁGINAS DA ALDEIA ( FIGURA/FUNDO)
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (na olaria)
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (XI)/CANTORIA
Você poesia cantora,
sangra aqui,
com tua voz negra,
recoberta de sombras e heras.
Canta nesta taberna,
entre os ciganos,
a emoção dos duendes.
Queima o teu sangue
bárbaro de eremita,
que a morte e a vida
se contemplam,
entre a navalha e os pastores
sob as redes de vento,
e as línguas dos rios
morrem sob o vulcão.
Mas, ouve...
há um caudal profundo,
que só escorre do coração!
sangra aqui,
com tua voz negra,
recoberta de sombras e heras.
Canta nesta taberna,
entre os ciganos,
a emoção dos duendes.
Queima o teu sangue
bárbaro de eremita,
que a morte e a vida
se contemplam,
entre a navalha e os pastores
sob as redes de vento,
e as línguas dos rios
morrem sob o vulcão.
Mas, ouve...
há um caudal profundo,
que só escorre do coração!
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA ( PONTO AZUL)
PÁGINAS DA ALDEIA (XXII)
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
sábado, 6 de outubro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA (III)
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
PÁGINAS DA ALDEIA
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
MINHA ALDEIA
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
UMA PALAVRA UMA VEZ (iii)

...era trilha, grão de espiga,
sabugo verde, com cabelo de sol,
cara verde, olhos mangados,
uma palavra uma vez
beijosa escrevia o dobrado.
A palavra uma vez nasceu
sem ser nascida,
escorreu e lambeu ferida
sumo do talho, leite da seringueira
e se debulhou pelo chão
em toiceras, capim seco,
com lustro verde-limão,
mato nativo, sempre germinando,
ocultando as lambidas da fera
e as batidas da vida
nos cascalhos do coração!
sábado, 11 de agosto de 2007
A DEBULHA DA PALAVRA

Como uma tenra espiga
se debulha em grãos,
da fundura da palavra
desde sempre nasce a farinha,
renascem os mortos e suas raízes
e novos berços choram
entre os mortais deuses.
Há nessas planuras de grãos,
o ar livre
da aldeia recém-desperta,
o verde útero donde sempre
se gestam as folhas
até a descida das trevas às cisternas
e a brotação do sumo das ramagens.
- Que o furacão escurece o sol do mundo
e na debulha úmida da seiva,
a resina se faz cio de grão.
Como uma anoitecente veladura,
as tuas palavras em minha alma!
segunda-feira, 23 de julho de 2007
CORVOS
quinta-feira, 19 de julho de 2007
PARÁGRAFO DA ARTE COM A ESCULTURA DE TANIA BREVES

A artista plástica TANIA BREVES desenvolve nas artes plásticas do Paraná, na contemporaneidade, relevante trabalho na Escultura em madeira, com a técnica do entalhe. A história de iconografias na Escultura demonstra enfase à materiais e técnicas as mais diversas, na criação do objeto artístico. O talhe, o entalhe em madeira se caracteriza por momentos na história da arte em que essa técnica milenar situa-se no mesmo nível que a escultura em pedra, em Metal, como nos períodos arcaico grego, impérios do Oriente e europa medieval. Assim, a talha em madeira destacou-se na Contra-Reforma, em razão da necessidade de propaganda dos valores religiosos, estando a escultura em madeira policromada ligada à imagens de devoção. Com a modernidade, a enfase aos materiais e técnicas é abrangente, o artista trabalha o próprio material como expressão. TANIA BREVES é inserida neste contexto, trabalhando com versatilidade e talento desenvolve um trabalho expressivo onde adotando a policromia em suas talhas, ora enfatiza caracteres devocionais, reverenciais ao seu trabalho, ora retalhando os veios da madeira e deixando expostos os seus carnais caminhamentos, reescava e faz emergir sentidos do próprio material. Com inúmeros trabalhos expostos, inclusive na Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR, a artista se insere num contexto à tradição do entalhe, da talha em madeira, preservando valores culturais na arte paranaense.
segunda-feira, 16 de julho de 2007
FACE A FACE
domingo, 15 de julho de 2007
LIQUIDEZ
Como uma líquida tela
escorre dos rios entre grimpas
esse expurgante escarro
catarro
embalo
fio da água entre cismos
que a luz reflete
entre as sombras
pinçam filetes
fantasias no ralo
escorre dos rios entre grimpas
esse expurgante escarro
catarro
embalo
fio da água entre cismos
que a luz reflete
entre as sombras
pinçam filetes
fantasias no ralo
sábado, 7 de julho de 2007
ARAUCANA
Olha as pedras, escuta o chão,
ouve a árvore,
goteja orvalho da alma à luz da lua.
Araucana,
olha em volta, não há ninguém,
não é de ninguém,
olha as pedras, escuta o chão!
Araucana amanhece como anoitece,
só o lavrador lhe toca a semente,
com seus dedos de terrões e celeiros.
Araucana não é só pensamento,
mas árvore de conhecimento,
verde fechado,
arroio do coração!
ouve a árvore,
goteja orvalho da alma à luz da lua.
Araucana,
olha em volta, não há ninguém,
não é de ninguém,
olha as pedras, escuta o chão!
Araucana amanhece como anoitece,
só o lavrador lhe toca a semente,
com seus dedos de terrões e celeiros.
Araucana não é só pensamento,
mas árvore de conhecimento,
verde fechado,
arroio do coração!
segunda-feira, 2 de julho de 2007
ENTRE- MONTANHAS
Entre-montanhas,
compassados voos da alma
peregrina
percorrem secretas celas.
O incenso dos turíbulos
infla o pouso sob os beirais,
enquanto entre as ramagens
o vento assovia
canoros ruflos, madrigais!
Ao longe
as sombras se abrem e se fecham
em ocasos.
Meus olhos esvoaçam espraiando-se
e ruflam asas nas embocaduras
e nas margens, desses riachos, desses córregos...
Entre-montanhas esse cismar finito,
solfejado grito, agonia da viagem...
compassados voos da alma
peregrina
percorrem secretas celas.
O incenso dos turíbulos
infla o pouso sob os beirais,
enquanto entre as ramagens
o vento assovia
canoros ruflos, madrigais!
Ao longe
as sombras se abrem e se fecham
em ocasos.
Meus olhos esvoaçam espraiando-se
e ruflam asas nas embocaduras
e nas margens, desses riachos, desses córregos...
Entre-montanhas esse cismar finito,
solfejado grito, agonia da viagem...
domingo, 24 de junho de 2007
ESSA MÚSICA AO LONGE
....de onde vem essa música ao longe,
que ao tempo entoa,
sobrevoa e pirilampa,
sob a insurreição dessa campa?
que ao tempo entoa,
sobrevoa e pirilampa,
sob a insurreição dessa campa?
TORRES DE PAPEL/CANTARES ÓRFICOS (III, VII, XI)
III
A noite é alta
e de hoje, amanhã, depois, nada sabes...
O vento toca o penhasco,
e mesmo assim, sob o balouçante prumo,
sois pomo do éter, videira da carne!
Bebe pois, do sumo destas horas,
este licor ferve entre pedras e cinzas,
que o mundo pulsa o sangue sob as águas
e destas uvas ainda trescalam olor,
- porque todo o Verbo é canoro
mas incensa o templo da alma,
e as memórias das romãs,
pelas manhãs...
VII
Louva o Amor, recorda que ele te lirou
na juventude,
só Ele conhece teus jardins de ôcos e tuas
virtudes,
que o mel da graça é amargo
na colméia da maturidade...
XI
Louva o teu corpo,
a espuma dos teus sonhos, o teu sangue,
a tua escuna veleja
na solidão da efemeridade.
Peregrina,
estás sentada sob o Portal
com tua bagagem...
A noite é alta
e de hoje, amanhã, depois, nada sabes...
O vento toca o penhasco,
e mesmo assim, sob o balouçante prumo,
sois pomo do éter, videira da carne!
Bebe pois, do sumo destas horas,
este licor ferve entre pedras e cinzas,
que o mundo pulsa o sangue sob as águas
e destas uvas ainda trescalam olor,
- porque todo o Verbo é canoro
mas incensa o templo da alma,
e as memórias das romãs,
pelas manhãs...
VII
Louva o Amor, recorda que ele te lirou
na juventude,
só Ele conhece teus jardins de ôcos e tuas
virtudes,
que o mel da graça é amargo
na colméia da maturidade...
XI
Louva o teu corpo,
a espuma dos teus sonhos, o teu sangue,
a tua escuna veleja
na solidão da efemeridade.
Peregrina,
estás sentada sob o Portal
com tua bagagem...
terça-feira, 8 de maio de 2007
UM AGORA COM BACHELARD
...." a arrumadeira desperta os móveis adormecidos...
quando um sonhador reconstrói o mundo a partir de um objeto que ele encanta com seus
cuidados, convencemo-nos de que tudo é germe na vida de um poeta...
...a casa, mais ainda que a paisagem é um estado da alma..." (1)
(1) Bachelard, Gaston. A Poética do Espaço, pp.80/82/84, Martins Fontes, 2002
quando um sonhador reconstrói o mundo a partir de um objeto que ele encanta com seus
cuidados, convencemo-nos de que tudo é germe na vida de um poeta...
...a casa, mais ainda que a paisagem é um estado da alma..." (1)
(1) Bachelard, Gaston. A Poética do Espaço, pp.80/82/84, Martins Fontes, 2002
quarta-feira, 2 de maio de 2007
VERSOS DE ARMIA/ESSA PEDRA
Sou dessa pedra que ferve,
que revolve os fluxos das células,
e arrebenta as próprias medulas.
Sou dessas pedras calcinadas,
que evolam do vapor de estradas,
o olor das camadas subterraneas,
ainda o centeio de raízes.
Sou assim, também, madeira fervida,
carcomida rendeira
com minhas folhas escritas,
com seus troncos queimados,
essas cinzeladas cicatrizes.
E sob esse canto, carrego
o manto desta ressonância,
destes meus jazigos petrificados.
Este fôlego da alma é apenas rastro,
pó fervente...soprado!
que revolve os fluxos das células,
e arrebenta as próprias medulas.
Sou dessas pedras calcinadas,
que evolam do vapor de estradas,
o olor das camadas subterraneas,
ainda o centeio de raízes.
Sou assim, também, madeira fervida,
carcomida rendeira
com minhas folhas escritas,
com seus troncos queimados,
essas cinzeladas cicatrizes.
E sob esse canto, carrego
o manto desta ressonância,
destes meus jazigos petrificados.
Este fôlego da alma é apenas rastro,
pó fervente...soprado!
terça-feira, 1 de maio de 2007
VERSOS DE ARMIA/ SECRETA VIAGEM
Pelos caminhos esvoaçam
um bando de íbis brancos
no vale das sombras.
Entre os rochedos a espiral
do pouso, por algum tempo,
algumas horas e algumas brumas,
no silencio que contempla,
sob as vozes que entoam...
E no colo do mistério,
simplesmente, a entrega dos selos,
porque acumular não é preciso,
mas, despojar-se é necessário!
um bando de íbis brancos
no vale das sombras.
Entre os rochedos a espiral
do pouso, por algum tempo,
algumas horas e algumas brumas,
no silencio que contempla,
sob as vozes que entoam...
E no colo do mistério,
simplesmente, a entrega dos selos,
porque acumular não é preciso,
mas, despojar-se é necessário!
quinta-feira, 26 de abril de 2007
HOMENAGEM A PAULO LEMINSKI/ UM HOMEM COM UMA DOR
Aqui poeta, vou transcrever um pouco de suas lisuras, de seus quebrantos, de suas desembocaduras, de seus enredos, de suas cheirosas e mal cheirosas ironias, de seus cantos de guerra e paz entoado sob a medula e o cerne da dor de cada dia, que sem ardil escreveste no teu paradoxo, o humano estranhamento da espécie.
Meu amado poeta despojado, desarticulado e rearticulado nos contextos e nos textos do mundo, minha saudade, minha reverencia, essa loucura de te dizer pra todo o sempre...
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
Meu amado poeta despojado, desarticulado e rearticulado nos contextos e nos textos do mundo, minha saudade, minha reverencia, essa loucura de te dizer pra todo o sempre...
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
domingo, 22 de abril de 2007
FOLHAS E VERSOS
Caem as folhas.
O silencioso rio serpenteia
por entre as pedras e caniços,
enquanto a suave luz da noite
despe-se,
estilhaçando-se sobre
o vitral da mata.
Só o murmúrio dos versos
em coral plange das cascatas,
dos véus que d'água cadenciam
écos da noite em sonata.
O caudaloso rio
serpenteia entre raízes,
a brisa morna tinge
as folhas, os matizes,
a esparramar-se
sobre o dorso escuro das colinas.
O silencioso rio
reflete tênue luz sobre a neblina,
poemas em multidão
caem das folhas,
versos explodem das rimas!...
O silencioso rio serpenteia
por entre as pedras e caniços,
enquanto a suave luz da noite
despe-se,
estilhaçando-se sobre
o vitral da mata.
Só o murmúrio dos versos
em coral plange das cascatas,
dos véus que d'água cadenciam
écos da noite em sonata.
O caudaloso rio
serpenteia entre raízes,
a brisa morna tinge
as folhas, os matizes,
a esparramar-se
sobre o dorso escuro das colinas.
O silencioso rio
reflete tênue luz sobre a neblina,
poemas em multidão
caem das folhas,
versos explodem das rimas!...
sexta-feira, 20 de abril de 2007
GRANULOS
Entre pretéritos
e sofismas,
os olhos se guardam
sob redomas com seus rebanhos,
com seus granulos,
que sempre incham o olhar.
e sofismas,
os olhos se guardam
sob redomas com seus rebanhos,
com seus granulos,
que sempre incham o olhar.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
PELOS CAMINHOS
Esparramo esses poemas pelo ar.
Onde caminho carrego sempre
comigo essas leveduras.
Cinzel nas costas,
vozes do olhar,
rascunhos na alma,
a pedra parida,
liquefeita sempre transgride,
cresce e me faz fervura!
Onde caminho carrego sempre
comigo essas leveduras.
Cinzel nas costas,
vozes do olhar,
rascunhos na alma,
a pedra parida,
liquefeita sempre transgride,
cresce e me faz fervura!
quarta-feira, 18 de abril de 2007
O JOGO
Qual a cor da pedra do jogo?
É azul?!
Pode ser verde...
Mas de amarelinhos e amarelinhas
só Cortázar entendia,
quando no corpo da mulher amada
como seu livro aberto,
grafou naquele deserto
tudo o que
desta vida sabia!
É azul?!
Pode ser verde...
Mas de amarelinhos e amarelinhas
só Cortázar entendia,
quando no corpo da mulher amada
como seu livro aberto,
grafou naquele deserto
tudo o que
desta vida sabia!
segunda-feira, 9 de abril de 2007
SEM TÍTULO XI
Atirei uma pedra ao lago. O lago moveu-se dentro dos meus olhos. É ao largo do lago do olhar que os olhos nos choram e são os únicos que pranteiam por nós. O lago mexeu-se...refletiu-se, filigranas entre as sombras, o múrmurio do vento varre a superfície, as águas chegam e lavam as bordas da terra. No barranco, na umidade das margens, uma menina de olhar chora uma mulher . Mascando fios de capim seco, entre os dedos uma flor a esvair-se porque oferenda agora volatizada, já não mais enlaça suas crias, só teias e enredos sob o vitral d'água estilhaçado. E neste espéculo meus passos dançam, a arena é sutil e guarda seus retalhos em floradas de abril, anoitecidas folhas que não mais amanhecem...As águas se moveram, se movem, em lâmina me alcançam os rastros, meus pés descalços , em mim chegam e sob a densidade evaporam-se em sutis frascos de dissimulados olores, as lascas desses ponteagudos penhascos de vidro...enquanto este lago me chora...arrebentam-se os traços...
domingo, 8 de abril de 2007
QUEIMAÇÃO
Vaza o teu prurido
sem sentido.
Escorre
afunda e inunda
as valas, as searas,
coalha as veias.
Queimam-se os ossos do tronco.
No teu corpo,
derrete o sôpro,
o lígan é carvão!
SEM TÍTULO VII
Folheando as páginas do tempo, esta minha relatividade de consciência me enleva, me destreva e deixo-me por ela ser guisada, maltratada, versejada. A água que escorre da
alma e do corpo carrega os seixos e lentamente, à medida que o fogo aquece, assenta-se o pó e emerge no espéculo do vitral, o rosto de hoje, do agora, do ontem, que não é o mesmo
do anteontem e não será o de amanhã. Vidraça embaçada, o hálito do tempo desenha os ideogramas do presente. Caligrafia chinesa milenar, dos meandros de intensas e insólitas buscas humanas. Escrevo e quero desenhar ideogramas de chuva sobre a vidraça. Do outro lado a paisagem secreta do outro que eu não conheço, que nunca conhecerei, mas que meu ser reverencia...e, assim no reverso que nos delimita, apenas a vibração do olhar, do espaço que nunca cede, do tempo que abre valas, da ampulheta que retalha, do poço que se escuro é guardador de serpentes, é também fiel reservatório de água pura. Nesta visão multifocal da minha consciência fragmentada, esforço-me para não pisar com minhas
sapatilhas de chumbo sobre a plantinha que ontem agoei. Sofreria muito se essa plantinha variada e arrancada fosse um dos meus filhos. Esforço-me para conter o grito da besta que saliva diante da carne viva exposta no prato alheio e acarinha açucenas no berço do próprio prato. Já disse em algum lugar, esforço-me para não recitar peixes aos meus filhos e pedras ao mundo! Esforço-me por cair sobre a lama desse espéculo e conter os vazamentos da minha ira, com a compreensão de que meu rosto também contém vazantes e desvãos. Ao longe singro-me entre meus vales e montanhas e ouço na réstia de vento as vozes do mundo,
do mundo primeiro e mensageiro do meu eu interior que me conduz à própria câmara e me direciona sob as folhas que de mim salpicam das grutas, da minha selva...cujas grimpas sempre me assustam com seus estalidos sob as chamas da sarça...porque a prosa do mundo, a escrita das coisas sempre recomeça...
alma e do corpo carrega os seixos e lentamente, à medida que o fogo aquece, assenta-se o pó e emerge no espéculo do vitral, o rosto de hoje, do agora, do ontem, que não é o mesmo
do anteontem e não será o de amanhã. Vidraça embaçada, o hálito do tempo desenha os ideogramas do presente. Caligrafia chinesa milenar, dos meandros de intensas e insólitas buscas humanas. Escrevo e quero desenhar ideogramas de chuva sobre a vidraça. Do outro lado a paisagem secreta do outro que eu não conheço, que nunca conhecerei, mas que meu ser reverencia...e, assim no reverso que nos delimita, apenas a vibração do olhar, do espaço que nunca cede, do tempo que abre valas, da ampulheta que retalha, do poço que se escuro é guardador de serpentes, é também fiel reservatório de água pura. Nesta visão multifocal da minha consciência fragmentada, esforço-me para não pisar com minhas
sapatilhas de chumbo sobre a plantinha que ontem agoei. Sofreria muito se essa plantinha variada e arrancada fosse um dos meus filhos. Esforço-me para conter o grito da besta que saliva diante da carne viva exposta no prato alheio e acarinha açucenas no berço do próprio prato. Já disse em algum lugar, esforço-me para não recitar peixes aos meus filhos e pedras ao mundo! Esforço-me por cair sobre a lama desse espéculo e conter os vazamentos da minha ira, com a compreensão de que meu rosto também contém vazantes e desvãos. Ao longe singro-me entre meus vales e montanhas e ouço na réstia de vento as vozes do mundo,
do mundo primeiro e mensageiro do meu eu interior que me conduz à própria câmara e me direciona sob as folhas que de mim salpicam das grutas, da minha selva...cujas grimpas sempre me assustam com seus estalidos sob as chamas da sarça...porque a prosa do mundo, a escrita das coisas sempre recomeça...
MORADA/OBITUÁRIO
Voce me habita,
em derradeiras crias
como serpentuário
sob a planta das mãos,
debaixo da planta dos pés,
navego nesses igarapés,
barco de espumas,
funduras de luas,
ossos no chão...
em derradeiras crias
como serpentuário
sob a planta das mãos,
debaixo da planta dos pés,
navego nesses igarapés,
barco de espumas,
funduras de luas,
ossos no chão...
sábado, 7 de abril de 2007
CASA-ALMA
Minha casa-alma me habita
e me percorre no mistério dessas colinas.
Quando a noite chega, recolhe-me...
e assim sou recolhida pelo sudário da neblina.
Na escuridão dessa viagem, só os ôcos silêncios
fazem a liturgia,
enquanto meus pés descalços sentem o topor
das folhas salpicadas que se escrevem.
Mas, quando venta empoeiram-se os manuscritos
e lavam-se sob o orvalho.
Nesta casa-alma de prenhez e tormentos sem atalhos,
os pássaros fazem aconchego entre os esconderijos
das ramagens.
Minha casa-alma à noite é este estranho ninho,
coagulante de suores,
de verdes dores selvagens!
e me percorre no mistério dessas colinas.
Quando a noite chega, recolhe-me...
e assim sou recolhida pelo sudário da neblina.
Na escuridão dessa viagem, só os ôcos silêncios
fazem a liturgia,
enquanto meus pés descalços sentem o topor
das folhas salpicadas que se escrevem.
Mas, quando venta empoeiram-se os manuscritos
e lavam-se sob o orvalho.
Nesta casa-alma de prenhez e tormentos sem atalhos,
os pássaros fazem aconchego entre os esconderijos
das ramagens.
Minha casa-alma à noite é este estranho ninho,
coagulante de suores,
de verdes dores selvagens!
PULSAÇÕES
No calabouço dessas folhas, cinzelo-me no pó!
Sandálias desatadas, se minhas veias
ainda estão acesas, meus caminhos não
podem estar desertos, e humanóide guardo
pulsações de mar, esses lençóis de
pergaminhos d'água, onde o cotidiano
reescreve o estigma da incompletude e dos desvãos.
Esforço-me para não recitar peixes
aos meus filhos e receitar pedras ao mundo.
Esforço-me para sobrevoar
e sobreviver à minha rasteirice,
para manchar-me além das pranchas
que se pintam e das formas que no fôlego se cinzelam.
Ah, incontido é esse torpor ,dos vazamentos d'alma!...
Sandálias desatadas, se minhas veias
ainda estão acesas, meus caminhos não
podem estar desertos, e humanóide guardo
pulsações de mar, esses lençóis de
pergaminhos d'água, onde o cotidiano
reescreve o estigma da incompletude e dos desvãos.
Esforço-me para não recitar peixes
aos meus filhos e receitar pedras ao mundo.
Esforço-me para sobrevoar
e sobreviver à minha rasteirice,
para manchar-me além das pranchas
que se pintam e das formas que no fôlego se cinzelam.
Ah, incontido é esse torpor ,dos vazamentos d'alma!...
Caminhante
Venho de caminhar léguas
e guardar na constância da poeira
as areias brancas do meu pão.
Venho de recobrar da espuma do tempo
meus olhos de nuvens,
de me perguntar sempre, inutilmente,
porque estes séculos em mim
conduzem-me sempre para o mais êrmo,
e as noites são como uma negra mancha
que me tinge a boca da alma
na habitação da carne,
com o sabor dos véus,
da vida e da morte que me caminham
e que tenho sempre os pés descalçados
nesta morada invisível do meu sentir...
Venho e sempre vago como sou,
caminhante por dentro,
ossos soltos, ao vento !....
e guardar na constância da poeira
as areias brancas do meu pão.
Venho de recobrar da espuma do tempo
meus olhos de nuvens,
de me perguntar sempre, inutilmente,
porque estes séculos em mim
conduzem-me sempre para o mais êrmo,
e as noites são como uma negra mancha
que me tinge a boca da alma
na habitação da carne,
com o sabor dos véus,
da vida e da morte que me caminham
e que tenho sempre os pés descalçados
nesta morada invisível do meu sentir...
Venho e sempre vago como sou,
caminhante por dentro,
ossos soltos, ao vento !....
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