Aqui poeta, vou transcrever um pouco de suas lisuras, de seus quebrantos, de suas desembocaduras, de seus enredos, de suas cheirosas e mal cheirosas ironias, de seus cantos de guerra e paz entoado sob a medula e o cerne da dor de cada dia, que sem ardil escreveste no teu paradoxo, o humano estranhamento da espécie.
Meu amado poeta despojado, desarticulado e rearticulado nos contextos e nos textos do mundo, minha saudade, minha reverencia, essa loucura de te dizer pra todo o sempre...
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
Arte em todas as formas de linguagem é graça e poder do espírito para recriar-se, luz que emana de única fonte!
quinta-feira, 26 de abril de 2007
domingo, 22 de abril de 2007
FOLHAS E VERSOS
Caem as folhas.
O silencioso rio serpenteia
por entre as pedras e caniços,
enquanto a suave luz da noite
despe-se,
estilhaçando-se sobre
o vitral da mata.
Só o murmúrio dos versos
em coral plange das cascatas,
dos véus que d'água cadenciam
écos da noite em sonata.
O caudaloso rio
serpenteia entre raízes,
a brisa morna tinge
as folhas, os matizes,
a esparramar-se
sobre o dorso escuro das colinas.
O silencioso rio
reflete tênue luz sobre a neblina,
poemas em multidão
caem das folhas,
versos explodem das rimas!...
O silencioso rio serpenteia
por entre as pedras e caniços,
enquanto a suave luz da noite
despe-se,
estilhaçando-se sobre
o vitral da mata.
Só o murmúrio dos versos
em coral plange das cascatas,
dos véus que d'água cadenciam
écos da noite em sonata.
O caudaloso rio
serpenteia entre raízes,
a brisa morna tinge
as folhas, os matizes,
a esparramar-se
sobre o dorso escuro das colinas.
O silencioso rio
reflete tênue luz sobre a neblina,
poemas em multidão
caem das folhas,
versos explodem das rimas!...
sexta-feira, 20 de abril de 2007
GRANULOS
Entre pretéritos
e sofismas,
os olhos se guardam
sob redomas com seus rebanhos,
com seus granulos,
que sempre incham o olhar.
e sofismas,
os olhos se guardam
sob redomas com seus rebanhos,
com seus granulos,
que sempre incham o olhar.
quinta-feira, 19 de abril de 2007
PELOS CAMINHOS
Esparramo esses poemas pelo ar.
Onde caminho carrego sempre
comigo essas leveduras.
Cinzel nas costas,
vozes do olhar,
rascunhos na alma,
a pedra parida,
liquefeita sempre transgride,
cresce e me faz fervura!
Onde caminho carrego sempre
comigo essas leveduras.
Cinzel nas costas,
vozes do olhar,
rascunhos na alma,
a pedra parida,
liquefeita sempre transgride,
cresce e me faz fervura!
quarta-feira, 18 de abril de 2007
O JOGO
Qual a cor da pedra do jogo?
É azul?!
Pode ser verde...
Mas de amarelinhos e amarelinhas
só Cortázar entendia,
quando no corpo da mulher amada
como seu livro aberto,
grafou naquele deserto
tudo o que
desta vida sabia!
É azul?!
Pode ser verde...
Mas de amarelinhos e amarelinhas
só Cortázar entendia,
quando no corpo da mulher amada
como seu livro aberto,
grafou naquele deserto
tudo o que
desta vida sabia!
segunda-feira, 9 de abril de 2007
SEM TÍTULO XI
Atirei uma pedra ao lago. O lago moveu-se dentro dos meus olhos. É ao largo do lago do olhar que os olhos nos choram e são os únicos que pranteiam por nós. O lago mexeu-se...refletiu-se, filigranas entre as sombras, o múrmurio do vento varre a superfície, as águas chegam e lavam as bordas da terra. No barranco, na umidade das margens, uma menina de olhar chora uma mulher . Mascando fios de capim seco, entre os dedos uma flor a esvair-se porque oferenda agora volatizada, já não mais enlaça suas crias, só teias e enredos sob o vitral d'água estilhaçado. E neste espéculo meus passos dançam, a arena é sutil e guarda seus retalhos em floradas de abril, anoitecidas folhas que não mais amanhecem...As águas se moveram, se movem, em lâmina me alcançam os rastros, meus pés descalços , em mim chegam e sob a densidade evaporam-se em sutis frascos de dissimulados olores, as lascas desses ponteagudos penhascos de vidro...enquanto este lago me chora...arrebentam-se os traços...
domingo, 8 de abril de 2007
QUEIMAÇÃO
Vaza o teu prurido
sem sentido.
Escorre
afunda e inunda
as valas, as searas,
coalha as veias.
Queimam-se os ossos do tronco.
No teu corpo,
derrete o sôpro,
o lígan é carvão!
SEM TÍTULO VII
Folheando as páginas do tempo, esta minha relatividade de consciência me enleva, me destreva e deixo-me por ela ser guisada, maltratada, versejada. A água que escorre da
alma e do corpo carrega os seixos e lentamente, à medida que o fogo aquece, assenta-se o pó e emerge no espéculo do vitral, o rosto de hoje, do agora, do ontem, que não é o mesmo
do anteontem e não será o de amanhã. Vidraça embaçada, o hálito do tempo desenha os ideogramas do presente. Caligrafia chinesa milenar, dos meandros de intensas e insólitas buscas humanas. Escrevo e quero desenhar ideogramas de chuva sobre a vidraça. Do outro lado a paisagem secreta do outro que eu não conheço, que nunca conhecerei, mas que meu ser reverencia...e, assim no reverso que nos delimita, apenas a vibração do olhar, do espaço que nunca cede, do tempo que abre valas, da ampulheta que retalha, do poço que se escuro é guardador de serpentes, é também fiel reservatório de água pura. Nesta visão multifocal da minha consciência fragmentada, esforço-me para não pisar com minhas
sapatilhas de chumbo sobre a plantinha que ontem agoei. Sofreria muito se essa plantinha variada e arrancada fosse um dos meus filhos. Esforço-me para conter o grito da besta que saliva diante da carne viva exposta no prato alheio e acarinha açucenas no berço do próprio prato. Já disse em algum lugar, esforço-me para não recitar peixes aos meus filhos e pedras ao mundo! Esforço-me por cair sobre a lama desse espéculo e conter os vazamentos da minha ira, com a compreensão de que meu rosto também contém vazantes e desvãos. Ao longe singro-me entre meus vales e montanhas e ouço na réstia de vento as vozes do mundo,
do mundo primeiro e mensageiro do meu eu interior que me conduz à própria câmara e me direciona sob as folhas que de mim salpicam das grutas, da minha selva...cujas grimpas sempre me assustam com seus estalidos sob as chamas da sarça...porque a prosa do mundo, a escrita das coisas sempre recomeça...
alma e do corpo carrega os seixos e lentamente, à medida que o fogo aquece, assenta-se o pó e emerge no espéculo do vitral, o rosto de hoje, do agora, do ontem, que não é o mesmo
do anteontem e não será o de amanhã. Vidraça embaçada, o hálito do tempo desenha os ideogramas do presente. Caligrafia chinesa milenar, dos meandros de intensas e insólitas buscas humanas. Escrevo e quero desenhar ideogramas de chuva sobre a vidraça. Do outro lado a paisagem secreta do outro que eu não conheço, que nunca conhecerei, mas que meu ser reverencia...e, assim no reverso que nos delimita, apenas a vibração do olhar, do espaço que nunca cede, do tempo que abre valas, da ampulheta que retalha, do poço que se escuro é guardador de serpentes, é também fiel reservatório de água pura. Nesta visão multifocal da minha consciência fragmentada, esforço-me para não pisar com minhas
sapatilhas de chumbo sobre a plantinha que ontem agoei. Sofreria muito se essa plantinha variada e arrancada fosse um dos meus filhos. Esforço-me para conter o grito da besta que saliva diante da carne viva exposta no prato alheio e acarinha açucenas no berço do próprio prato. Já disse em algum lugar, esforço-me para não recitar peixes aos meus filhos e pedras ao mundo! Esforço-me por cair sobre a lama desse espéculo e conter os vazamentos da minha ira, com a compreensão de que meu rosto também contém vazantes e desvãos. Ao longe singro-me entre meus vales e montanhas e ouço na réstia de vento as vozes do mundo,
do mundo primeiro e mensageiro do meu eu interior que me conduz à própria câmara e me direciona sob as folhas que de mim salpicam das grutas, da minha selva...cujas grimpas sempre me assustam com seus estalidos sob as chamas da sarça...porque a prosa do mundo, a escrita das coisas sempre recomeça...
MORADA/OBITUÁRIO
Voce me habita,
em derradeiras crias
como serpentuário
sob a planta das mãos,
debaixo da planta dos pés,
navego nesses igarapés,
barco de espumas,
funduras de luas,
ossos no chão...
em derradeiras crias
como serpentuário
sob a planta das mãos,
debaixo da planta dos pés,
navego nesses igarapés,
barco de espumas,
funduras de luas,
ossos no chão...
sábado, 7 de abril de 2007
CASA-ALMA
Minha casa-alma me habita
e me percorre no mistério dessas colinas.
Quando a noite chega, recolhe-me...
e assim sou recolhida pelo sudário da neblina.
Na escuridão dessa viagem, só os ôcos silêncios
fazem a liturgia,
enquanto meus pés descalços sentem o topor
das folhas salpicadas que se escrevem.
Mas, quando venta empoeiram-se os manuscritos
e lavam-se sob o orvalho.
Nesta casa-alma de prenhez e tormentos sem atalhos,
os pássaros fazem aconchego entre os esconderijos
das ramagens.
Minha casa-alma à noite é este estranho ninho,
coagulante de suores,
de verdes dores selvagens!
e me percorre no mistério dessas colinas.
Quando a noite chega, recolhe-me...
e assim sou recolhida pelo sudário da neblina.
Na escuridão dessa viagem, só os ôcos silêncios
fazem a liturgia,
enquanto meus pés descalços sentem o topor
das folhas salpicadas que se escrevem.
Mas, quando venta empoeiram-se os manuscritos
e lavam-se sob o orvalho.
Nesta casa-alma de prenhez e tormentos sem atalhos,
os pássaros fazem aconchego entre os esconderijos
das ramagens.
Minha casa-alma à noite é este estranho ninho,
coagulante de suores,
de verdes dores selvagens!
PULSAÇÕES
No calabouço dessas folhas, cinzelo-me no pó!
Sandálias desatadas, se minhas veias
ainda estão acesas, meus caminhos não
podem estar desertos, e humanóide guardo
pulsações de mar, esses lençóis de
pergaminhos d'água, onde o cotidiano
reescreve o estigma da incompletude e dos desvãos.
Esforço-me para não recitar peixes
aos meus filhos e receitar pedras ao mundo.
Esforço-me para sobrevoar
e sobreviver à minha rasteirice,
para manchar-me além das pranchas
que se pintam e das formas que no fôlego se cinzelam.
Ah, incontido é esse torpor ,dos vazamentos d'alma!...
Sandálias desatadas, se minhas veias
ainda estão acesas, meus caminhos não
podem estar desertos, e humanóide guardo
pulsações de mar, esses lençóis de
pergaminhos d'água, onde o cotidiano
reescreve o estigma da incompletude e dos desvãos.
Esforço-me para não recitar peixes
aos meus filhos e receitar pedras ao mundo.
Esforço-me para sobrevoar
e sobreviver à minha rasteirice,
para manchar-me além das pranchas
que se pintam e das formas que no fôlego se cinzelam.
Ah, incontido é esse torpor ,dos vazamentos d'alma!...
Caminhante
Venho de caminhar léguas
e guardar na constância da poeira
as areias brancas do meu pão.
Venho de recobrar da espuma do tempo
meus olhos de nuvens,
de me perguntar sempre, inutilmente,
porque estes séculos em mim
conduzem-me sempre para o mais êrmo,
e as noites são como uma negra mancha
que me tinge a boca da alma
na habitação da carne,
com o sabor dos véus,
da vida e da morte que me caminham
e que tenho sempre os pés descalçados
nesta morada invisível do meu sentir...
Venho e sempre vago como sou,
caminhante por dentro,
ossos soltos, ao vento !....
e guardar na constância da poeira
as areias brancas do meu pão.
Venho de recobrar da espuma do tempo
meus olhos de nuvens,
de me perguntar sempre, inutilmente,
porque estes séculos em mim
conduzem-me sempre para o mais êrmo,
e as noites são como uma negra mancha
que me tinge a boca da alma
na habitação da carne,
com o sabor dos véus,
da vida e da morte que me caminham
e que tenho sempre os pés descalçados
nesta morada invisível do meu sentir...
Venho e sempre vago como sou,
caminhante por dentro,
ossos soltos, ao vento !....
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