Saúdo-te pura essência!
Tu és morada única
em todos os reinos
na acústica dos meus sentidos
Belíssimo és Tu
na manjedoura do horizonte!
Arte em todas as formas de linguagem é graça e poder do espírito para recriar-se, luz que emana de única fonte!
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
GRANDE SENHOR DO DISCO SOLAR
imagem/arte egípcia/pedra/séc.VI A.C./museu do Louvre/FR
FELIZ NATAL! FELIZ ANO NOVO!
BOAS FESTAS!
FELIZ NAVIDAD y PRÓSPERO AÑO NUEVO!
Tua aurora não tem começo nem fim
Tua aurora não tem começo nem fim
"Aton, Tu és brilhante, claro e forte!...
Salve ó Tu que Te ergues no horizonte
que iluminas o céu...
Teu amor é grande e poderoso
Salve ó deus maravilhoso da paz
vê como os homens erguem as mãos suplicantes
eles oram enquanto acordas
ao surgires do teu leito noturno"(*)
Me extasio!
Saúdo-te como pura essência
Alpha Ômega Aton Rá Zoroastro
Buda Shiva Brahma
Maomé Cristo
Tu simplesmente habitas
Tu és única morada em todos os reinos
na acústica dos meus sentidos
ar fogo água terra
te respiro na argila deste vaso
em que me queimas
na tua chuva que me germina
no teu fogo que me incendeia e depuras
sopras-me em espuma e sombra
e a aurora e o crepúsculo dizem da tua beleza
Assim te peço que em todo amanhecer
quando lótus abre suas pálpebras
e Tu ressurges resplandescente
sobre a Esfinge
que ao emprestares a luz de teus olhos a ela
o sopro e a voz da Palavra para criar
e reconhecer as formas do mundo e a sua Arte
possam esses olhos coração e razão
extasiados em Ti
celebrar o quão Belíssimo és Tu
na manjedoura do horizonte
quando nasces todas as manhãs
"radioso Aton fonte de todas as coisas vivas..
teus raios tocam o chão
as solas dos teus pés
se movem sobre o pó.." (*)
(*) citações/primeiro hino ao Senhor do Disco Solar
HERU - RA - HA (Hórus e Rá sejam louvados!!
sábado, 6 de dezembro de 2008
RENASCENTE
tela/Mondrian
(líricas de um evangelho insano)
Renasço sempre renasço
verbo da terra
sou fungo das minhas povoações
o mundo me arrasta o caudal
minhas vestes me guardam a extensão
a debulha me acrescenta
me subtrai me rasga os grãos
mas as sombras que me revoam
que me projetam
me dizem da tua eternidade
as sombras me dizem
da tua luz marinha
do teu silêncio
das tuas constelações pelos caminhos
das longitudes e das latitudes da árvore
e de seus ossos renascentes!
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
NOTAÇÕES LÍRICAS (IV)
sábado, 15 de novembro de 2008
VETADO
imagem/mnemosyne
(líricas de um evangelho insano)
(líricas de um evangelho insano)
A palavra pode ser
extremamente bárbara
Se é contumaz lírica
no trampolim faz
acrobacias
deflagra reticências
pelos céus............
...................... Salta de para-quedas
das estrelas************
e se abana a respiração
cansada do rei
é sempre em legítima
defesa de honra
Palavra amamentada
VETADO
Sempre certa é incerta
Ápeiron de Anaximandro
se diz substância imutável
da língua das coisas
mas confunde o remo
com o remoinho
não quero formulários
só tenho um par de sapatos voadores
e um ticket de volta indeterminado
a escada se recolhe e revoa
o pássaro faz a rota do comboio
mas o comboio não faz a rota do pássaro
Há uma litorina sobre o mar
sobre os cabos de aço de teus braços
O teu axioma algures minha substância.............
.......................***************** ***************************
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
SALGANTE
(líricas de um evangelho insano)
Pode ser qualquer texto,
talvez este, o mais exposto,
o menos guardado,
este amarrotado,
sem sentinela na torre,
bolinha de papel
quase afundado
na lixeira de costume,
nada de códigos,
tudo se remumifica
sob o verbo selado,
um cheiro ocre de cebolas
e continentes,
um bálsamo de cedro,
uma coifa guardando a fumaça,
tudo a céu aberto, no rendilhado.
Tudo pode ser um grito perdido,
um grito ouvido, um verbo salgado
sob 0 galho de uma árvore,
o peso e a leveza
do estalido no copo, no corpo,
do gemido fervido
da chaleira anunciando,
o toque da campainha,
o cincerro da ovelha,
o opúsculo dos cães,
a pastoral do amanhecer.
Qualquer texto escreve-se
sem iniciais em pré-texto,
sem recontagens de tempo,
desde que me ouças!
sábado, 1 de novembro de 2008
GIRANTES
terça-feira, 21 de outubro de 2008
UMA CARTOGRAFIA BIOGRÁFICA COM O POETA CONTEMPORÂNEO YOUSSEF RZOUGA
" há que fazer calar-se os cães
enquanto florescem os
roseirais..." (Youssef Rzouga)
Uma das figuras mais representativas da moderna poesia árabe e contemporânea ocidental o poeta tunisiano Youssef Rzouga abarca, hodiernamente, com sua profícua obra literária uma dezena de trabalhos críticos e de reflexão escritos sobre a mesma. Nesse contexto rastreante de sentidos, vez que sua obra poética se escreve em várias línguas, o poeta a experimenta em vários idiomas, entre elas, o português, vamos trazer para conhecimento e informação de nossa cultura nesta série, suscintos depoimentos e vozes de críticos e escritores hodiernos que nos inserem aos caminhamentos da substanciosa poética de Rzouga, com suas abrangentes reflexões. Assim diz Haifa Baccar, crítica tunisiana:"... Youssef Rzouga em sua obra "O Filho da Aranha propõe edificar uma ponte entre Oriente e Ocidente utilizando o rosto único de seu material predileto, a poesia. É inovador, conciliador e instigador de uma nova corrente poética...para a crítica a poetisa e escritora francesa Chantal Morcrette que prefaciou a obra de Rzouga, diz que este ousa, inova com uma nova métrica, inserindo à poesia ocidental francesa, a métrica árabe, criando um novo ritmo poético na atualidade, o "ociriental". Este, resultaria de uma inserção de medidas orientais na composição literária francesa levando-se em consideração certas alternâncias precisas de sílabas curtas e longas que conferem à poesia oriental o seu ritmo próprio e o seu segredo. Assim, como um maestro o poeta executaria sua sinfonia apoiando-se sobre notas e ritmos. O poeta, diz Haifa ainda referindo à Rzouga assemelha-se a um Rimbaud de nossos tempos trabalhando a palavra como um ímã a ocultar, obstruir, a mergulhar no constante ritmo do claro/escuro referencial, caminhando ao metalínguistico, perturbando esquemas estabelecidos, transgredindo regras, aproximando-se consoante a estrutura sonora com sua poesia, ao canto de Paul Verlaine, ao deslumbramento da metáfora real de Baudelaire." A escritora e poetisa francesa Chantal Morcrette, citada por Haifa diz ainda: "...Youssef Rzouga se inscreve num contexto de uma grande agitação de uma marcha inevitável. A criança brinca no estádio dos grandes, o olhar lançado à frente. Falar de Rzouga é anunciar um espetáculo aberto, um jogo, um bailado, onde o teatro e o quotidiano convivem. As decorações podem compreender as costumeiras ou serem extraordinárias nesse palco...mas, as gravatas que vestem o artista devem abranger mil e uma silhuetas para mascatear o mundo através do coração. No caminho de Rzouga Oriente e Ocidente estão lado a lado, a terra toma assento ao mar para tornar-se azul, é o lobo e o homem costa à costa que falam a Vida e através desta uma força ancestral e uma mão que se estica ao outro. Nos jardins de Rzouga, diz Morcrette, a poesia é fábula, mas a sua estrada tortuosa se abre pelo mundo em ascensão incontrolável..." Em ressunta, neste capítulo que aqui abordamos (II), citamos o crítico tunisiano Hedi Khalil que enfatiza que a originalidade poética de Rzouga assenta-se sobre uma ótica visionária do poeta e da poesia e sua necessidade hodierna de reconciliar-se com as exigências dos saberes, no assentamento das relações humanas com a expressão lídima de diálogo e humanismo diante da transculturalidade hodierna hoje globalizada.
MÚSICA AMBIENTAL
Youssef Rzouga
Nunca é tarde
para fazer algo
atirar-se ao mar por exemplo
e por em fila os peixes coloridos
à manifestarem-se contra
o tubarão
Nunca é tarde
para vencer este complexo
de inferioridade por exemplo
subir ao trono das coisas
e fazer calar-se o cão que ladra
enquanto florescem os roseirais
Nunca é tarde
para denunciar-se o culpado
de ontem de hoje
feito inocente às vezes
tocar o tambor
dançar de vez em quando
e triunfar sobre uma vida
de grande vazio
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
NOTAÇÕES RÍTMICAS (XI)
domingo, 12 de outubro de 2008
sábado, 11 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
NOTAÇÕES RÍTMICAS (V)
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
CARTA BIOGRÁFICA DO POETA CONTEMPORÂNEO YOUSSEF RZOUGA DA TUNÍSIA (I)
imagem: publicações sobre suas obras
"
"
...há que fazer calar-se os cães enquanto florescem os roseirais...” (Youssef Rzouga)
YOUSSEF RZOUGA é poeta de expressão árabe e francesa na contemporaneidade, uma das figuras mais representativas da poesia árabe moderna, cujo perfil compreende uma experimentação estética inovadora para com a poesia contemporânea. Natural de Ksour Essef, perto de Mahdia, Tunísia, nasceu em 21 de março de 1957. Seu trabalho é notório tanto na África Setentrional como na Europa e Oriente Médio e consoante o crítico Hedi Khalil, Rzouga é iniciador de um ritmo de métrica ociriental (ocidental/oriental), árabe, na literatura francesa, sendo seu trabalho obsecado por um profundo sentido estético, o qual aprofunda explorando sempre vias novas de expressão poéticas, às quais procura adaptar no contexto das preocupações de sua época. É poliglota, cognominado pela moderna crítica literária como “o lobo do verbo”, Rzouga escreve em várias línguas, espanhol, francês, inglês, árabe, português, sueco. A sua formação compreende estudos superiores de Ciências Humanas, Letras, Artes, Direito, Ciências Políticas, Informação. É jornalista da imprensa tunisiana e possui obras reconhecidas mundialmente, com inúmeras premiações, dentre elas o Grande Prêmio da Literatura Árabe do ano de 2004, bem como o prêmio “Escudo do Djwan El Arab” do Egito em 2005, pela sua contribuição à cultura árabe. Iniciou sua carreira literária aos vinte anos de idade com a publicação do livro denominado “DISTINTO DE VOCE PELA MINHA TRISTEZA”. A poesia de YOUSSEF RZOUGA é abrangente e interativa, apoiando-se segundo o crítico citado, sobre uma reflexão lingüística abrangente de saberes, explorando o poeta as relações da palavra, no contexto literário de uma metalinguagem, uma ordem metafísica, onde inova com a utilização e adoção de signos científicos, e outras formas de linguagem, de conhecimento, assim Rzouga reabre novos flancos do imaginário poético contemporâneo, o que caracteriza sua poética e expressão visionárias.
OBRAS POÉTICAS EM ÁRABE:
1978 – DISTINTO DE VOCE PELA MINHA TRISTEZA
1982 - LÍNGUA DE RAMOS DISSIMILARES
1984 - PROGRAMA DA ROSA
1986 – O ASTROLÁBIO DE YOUSSEF, O VIAJANTE
1998 - O LOBO DO VERBO
2000 - PAÍS DENTRO DE DUAS MÃOS
2001 - FLORES DE BIÓXIDO DA HISTÓRIA
2002 - DECLARAÇÃO DE ESTADO DO ALERTA
2003 - OBRA COMPLETA (primeiro volume)
2004 - IOGANA (O LIVRO DE IOGA POÉTICO)
2004 – A BORBOLETA E A DINAMITE
2005 - TERRA ZERO
2007 – A MEIA LUA SE DIRIGE PARA O ORIENTE(obras completas segundo volume)
2008 - VOZES DE CARTAGO(epopoeia poética com o escritor tunisiano A Brahem)
Em francês:
2005 - O FILHO DA ARANHA
2005 - IOTALIA
2005 - MIL E UM POEMAS
2005 - O JARDIM DE FRANÇA
2006 - MAIS CEDO EM CIMA DA TERRA
Em espanhol:
FUERA DEL YO DOMINANTE (inédito)
LOS POETAS VUELAN BAJO (inédito)
Em sueco:-
Ö (ilha) – inédito- Förälskad Lexikon
(o léxico dos apaixonados), inédito
Em português-
Na Janela (inédito)
Em prosa:
1986 – O arquipélago (novela)
1992 - O Vôo da Laranja (ficção)
2008 – Ezzedine Al Manasra (poeta da palestina)/crítica
Inglês:
2005 – Two Hells in the Heart(dois infernos no coração) por Khawla Kreesh
2005 – Pacem in Terris (A paz sobre a Terra)
com o poeta americano Philip Hacket, traduzido por Khawla Kreesh.
PRÊMIOS:
1981 - Prêmio Nacional de Poesia
1985 - Prêmio Nacional de Poesia
1998 - Prêmio Nacional de Poesia
2003 - Prêmio Al-Chabbi
2004 - Prêmio Mahdia
2004 – Grande Prémio da Literatura Árabe
2005 - Grande Prêmio do Egito
BIBLIOGRAFIA SOBRE YOUSSEF RZOUGA:
BAHANI, Hassen. De Ekelöf à Rzouga ou a Alegria de Estar
AliBRADAI, Kais. O Encanto dos Relevos (abordagem crítica)
BEN MANSOUR, Mourad. A Língua Explosiva e o
Tema Antecipado na Poesia de Youssef Rzouga (tese)
DIANO, Aude Richeux. La Poesia de Youssef Rzouga à procura do Vínculo Autentico.
EL OUNI, Chems e autores. Embaixo da Máscara. Tn:Sotepa (a respeito da saída do poema...)
FRANCE, Ella. Youssef Rzouga até Nova Ordem Poética.
FERCHICHI, Houyam. A Orquestra do Poeta. Tn: Sotepa (a respeito da Declaração...) MADANI, Ezzedine. A Poesia de Rzouga e a Língua da Época. Tn: Mercredi Littéraire (sobre a Declaração...)
MAHFOUDH, Hafedh e demais autores. A Porta Entreaberta. Tn: Sotepa (sobre as Flores de Bióxido...)
MEHER, Derbal e Kolsi, Abdrrazzak. A Poesia em Tempo de Globalização.Tn: Sfax (sobre as Flores de Bióxido da História)
MEJRI, Khaled e Chawki, Anizi. O Jardim e os Arredores. Tn: Sotepa (itinerário de Rzouga) SOLIMAN, Walid e autores. Youssef Rzouga e o Viajante do Tempo Moderno. Tn: Sotepa
WALID, Zribi. Youssef Rzouga o Lobo nas Palavras (entrevista-rio), Sotepa, 2008.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
RÁ_MA
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
EMBRIAGUEZ O2
foto da autora: sítio de Guaraqueçaba/PR/BRASIL
"há que fazer calar-se os cães enquanto florescem os roseirais..."
(Youssef Rzouga)
Intertexto com o poema FRAGMENTOS POÉTICOS
do poeta YOUSSEF RZOUGA, de TÚNEZ (TUNÍSIA)
" Viver para sonhar,
é sonhar para viver,
ébrio de O2.
Viver para sonhar
é sonhar para rejuntar
ao último grito de um corvo,
o primeiro grito estridente de Adão.
Viver para sonhar
é sonhar para rimar todo
esse mundo louco
como o absurdo sorriso
de Gioconda...
Viver para sonhar
é sonhar em simbioses,
com os dias que virão.
O que quero
é que chova cada vez mais,
que os verdadeiros artífices (inventores)
invadam a terra. " (Youssef Rzouga)
.....................................................................................................................
Respiro a pedra do meu sonho,
minha pedra me respira,
me embriaga, me lanha,
tento aprisionar nas mãos
de Miguel Angelo
o eco do incontido grito de Trimegistus
na Sixtina,
atravessar pela fresta da porta
do sorriso de Gioconda,
mas, o bisão na Caverna de Altamira
revela-me, denuncia-me!
Ainda sonho
nesta pedra do meu travesseiro,
sonho nessas iluminuras
que te escrevo,
arrepiam-me os corvos
e o aço das metalurgicas
sob os beirais
dos olhos do incandescente
dos meus ossos,
meus ossos estão acesos pelas cordilheiras,
escrevo no vermelho do meu sangue,
o verde do teu nome,
ainda sonho,
as nuvens entreabrem as corolas,
o vento espiga as marolas do mar,
a chuva é uma alegria que chora,
o oleoduto sangra a alma dos peixes,
a terra perde a carnadura,
da vala ainda agora alguém subiu no azul...
www.lilianreinhardt.prosaeverso.net
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
ESTE NÃO É UM CANTO
Monet/Ninféias
(líricas de um evangelho insano)
Este canto ferve a semente,
espirala o centeio,
flama o magma
do corpo,
este canto não é um canto
de azeite.
O grande rio convida
à meditação,
meu véu de neblina
cobre-me o rosto,
o silêncio te fecunda
em mim,
o pano de fundo
é queimado,
o sudário engastou-se
sob a minha pele
d'água,
a cidade morta se
engalana
com seus monumentos
de neón,
mas,
a floresta respira
pelos poros da epiderme
de suas pedras.
O amor é fome desse
submerso jardim,
um vinho ácido
de ancestralidades,
na boca cúmplice
da alma.
Esta ária não dói
nem um pouquinho
na flauta do tempo
das minhas vértebras,
girassóis em golfadas
sob o vitral rodopiam
há muita léguas.
Tiro as sandálias,
teu canto me embevece...
Deixa a eternidade
salgar-te.
Nada sei sobre o mar,
mas ele tudo me sabe.
Ele como tu
emerge com suas turbas
em minha alma
e apreende-me
com as crinas
de suas ondas,
de guizos e crisântemos
coroadas.
Reconhece-me
pelos pés,
sabe dos meus caminhos,
reconhece minhas ninféias
e resvala minha geografia
com seu tato líquido
de ternura.
Deixa a eternidade salgar-te,
a água qual pólen
vorazmente incendeia
o torrão,
nesse corpo de sal...
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
VIA ÚNICA
Maiastra/Brancusi
(líricas de um evangelho insano)
Pode haver um sentido
único debaixo dos pés!
Mão única? Única via, diga-me!
Contemplo teu rosto único
de Toten e tuas múltiplas
sombras desenham
esse azul único.
Nos olhos do espelho
os reflexos da cidade camuflada
fervilham abaixo da linha do trem,
sob a escada rolante do arco-íris,
no delta da íris,
muitas rodas de gigantes de íxion,
rodas do tempo d'água,
deste beiral incandescente.
Esse pássaro me acorda
o dia nessa roda gigante,
com suas línguas de manhãs,
em fogo e hortelã.
A cidade eclode seus mortos,
há uma cidade viva abaixo
da linha do trem,
uma cidade de poros acesos,
de membranas diáfanas,
de fósseis regenerados,
debaixo do azul dessas manchas solares,
há escombros dessa cidade pulverizada.
O homem chora diante do monumento.
Mondrian decompõe a geometria da
árvore entre verticais e horizontais,
explodem as tangências do arco-íris,
o ponto da abóboda da catedral, de cristal!
Essa cidade tem rosto de tigre,
gosto de sal ocidental,
esses monumentos projetam
pesadas sombras,
os moluscos reprocriam sob a pedra
que pesa o meu olhar diante de Maat
e não consigo carregar o pássaro.
Maiastra de Brancusi,
canta em mim esse azul,
há muitas vias numa única via,
os alfinetes espalham-se diante
dos monumentos...
sábado, 9 de agosto de 2008
PARÁGRAFO POÉTICO COM A POESIA DE YOUSSEF RZOUGA NA CONTEMPORANEIDADE
"...há que fazer -se calar os cães enquanto florescem os roseirais..."
(Youssef Rzouga)
Com uma vida dedicada à poesia há quatro décadas, escrevendo em várias línguas, o poeta tunisiano YOUSSEF RZOUGA de expressão árabe e francesa experimenta e inova a palavra e sua substância poética na contemporaneidade, reatirculando uma experimentação estética inovadora com a poesia, à qual se infere de uma multifacetada eclosão de visões perspécticas no contexto de suas escrituras poéticas. Seu trabalho é notório tanto na África Setentrional, na Europa como no Oriente Médio.YOUSSEF RZOUGA é natural de Ksour Essef , Tunísia e possui obras reconhecidas mundialmente com inúmeras premiações, dentre elas o Grande Prêmio da Literatura Árabe do ano de 2004, pela totalidade de suas obras, o prêmio Escudo de Diván Al- Arab, Egito, 2005. A experimentação estético-literária de RZOUGA, de singularidade e abrangencia universal apresenta inquietantes caminhamentos de exasperação e inquietação. A sua poesia ao experimentar-se em vários idiomas adentra signos universais da linguagem, percorrendo raízes comuns das várias línguas em que se inscreve, resgatando conteúdos vivenciais, históricos, humanos, percorrendo raízes ancestrais comuns. Se, a modernidade ocidental se caracteriza historicamente como assenta Foucault pela fragmentação da linguagem, com a falência histórica do discurso da representação e consequente autonomia da Literatura, como disseminadora da palavra e depositária de saberes, nesse contexto alinhava-se uma articulação de redimensões no embate da palavra poética que se experimenta em Rzouga. Sua poesia emergindo por entre os escombros da pulverização do sujeito moderno faz profundas reescavações significantes, como a permear e recompor sentidos perdidos de uma linguagem desconstruída e fracionada, como a reabrir na obscuridade brechas por onde possam ser refletidos filamentos de dimensões ancestrais das mesmas vozes da alma, num especial e secreto jardim, como a coexistir essa intimidade de fluxos a Bataille. Sua poesia dissemina a palavra, dialoga rejuntamentos, aspira à interioridade, um caminhamento de dentro, recolhe a inquietude do embate coloquial do instante, o qual condensa com vitalizante pulsação. Como uma pedra que atirada ao lago perfura a superfície e rasga a pele do mundo, as sombrias teias do olhar, a cortina do templo, movimenta elipticamente as dobras labirínticas do ser, abrindo profundidades, criando espasmos, resgatando sensações. Parece apreender os rostos, as faces das coisas, das formas, do agora, do ontem, do amanhã, no tubo de ensaio da árvore cósmica, num retorno a uma inquietação e uma busca interior, secreta, onde da escuridão podem brotar respostas. É móvel, flexível, dura, áspera, sempre inacabada, perscrutante, vitalizadora, "corazon a corazon" como canta, indomável, selvagem, terna, concha que guarda a ostra e sua ferida secreta, a palavra que se enuncia e diz e se guarda, se vela e se revela além do enunciado, buscando a complementação da vivencia enriquecedora, a substância da rosa de carne da palavra viva-alga, água, a mesma substância que pode matar a sede e a fome de um lado ao outro do mundo, caminhante do exterior ao dentro, sístole e diástole, desde a micro à macro-aldeia. Um toque reconhecível de um clarim eclode!!!
...diz a poesia de RZOUGA,
"..um de nós,
tanto gritou
que perdeu a voz...
...ela é como eu,
quase obrigada a dançar
na corrente de ar,
dá-me esse livro,
quero outra asa livre
para voar até alí
no sentido inverso
dos ponteiros
do meu relógio,
quero percorrer
esta distância atroz
para beber esse rio ávido,
outra vez,
deste jardim secreto,
um jasmim tunisiano
vai de viagem,
até alí,
é só abrir a janela,
para apalpar
a verdade branca,
de um cheiro selvagem!...
Só tenho uma flor,
a quem é que me
devo dirigir?
Está escuro em
todo o lado,
é necessário fazer algo!
Faço o que posso,
mas este ascensor está avariado,
por isso devo subir as escadas,
de quatro em quatro,
no rés-do-chão,
há espaço para todo o mundo
sob a égide do vigia (guarda/noturno).
No primeiro, não há ninguém,
no segundo, também não,
no terceiro, nada de interessante,
no quarto, nada de nada,
no quinto, um gato esconde outro,
no sexto, uma porta entreaberta,
no sétimo... até que enfim!
Ufa, a jarra não se partiu! "
"....é preciso fogo
para incendiar o sentido único
da cidade triste..."
"em silencio,
faço o que posso,
um poema para
voce por exemplo...
"está escuro em todo o lugar,
vamos escrever algo no escuro?..."
"...este mar faz parte de minha
aldeia global..."
" nós somos pássaros migradores,
só para voar como deve ser
em forma de um coração gigante,
baixo e alto e no sentido inverso
dos ponteiros de um relógio,
só para ter a possibilidade
de compor outra canção paralela
ao comboio rápido, dó, ré, mi, fá, sol!.."
http://www.lilianreinhardt.prosaeverso.net/
LILIAN REINHARDT
LILIAN REINHARDT
quarta-feira, 25 de junho de 2008
SÓ A ROSA É ROSA E MAIS ROSA
www.cespe.unb.br
(líricas de um evangelho insano)
...Intertexto com o poema LA LENGUA DE EINSTEIN do poeta
YOUSSEF RZOUGA, de Túnez (Tunísia)
"....otra guerra empleza bárbaramente
comienza el espectáculo:
um poema de casco verde hace strip-tease
jugando al cometa
y sacando la lengua de Einstein
entre poema completamente desnudo
y espectadores hay roces
es otra vida posible
en esta aldea global
pero me da miedo en la capa de ozono
"colorin colorado...
este poema se ha acabado.."
Esse poema desnudo caminha nú
atrás de mim e dentro de mim
me caminha esse poema
com sua nudez!
Neste céu de inverno de roseirais
rosal do meu sangue,
grunhe com seus estalidos
de fogo nú a pira ancestral
da minha aldeia,
esse grunhido escreve do crepitar
das chamas, o espetáculo da guerra
dessa escrita, do duelo
dessas horas frias, malditas,
enquanto esse poema
me caminha nú,
e lambe o meu corpo
com sua língua primitiva,
te escreve sobre os meus charcos
de crocodilos e se guarda
em senhas por entre os ovos
das minhas tarturgas,
e os seus refundos rastros
mancham sobre as águas de rosa,
os passos desse meu sol de sangue,
que não pode derreter
com seu manto róseo
esse véu de ozônio dos meus pulmões...
Meus ombros gaia
não podem ficar desnudos!
Grito, grito entre os escombros
dessa língua de Einstein, grito
pela fecundação da poeira cósmica
dos meus sonhos!!!
quarta-feira, 18 de junho de 2008
DEPOIMENTO PESSOAL (1)
www.defensormaldito.com
(líricas de um evangelho insano)
À minha frente o escrivão no computador:
- A senhora pode sentar-se aqui...por favor!
Arredam-se cadeiras, olho o rosto encovado do menino de vinte e poucos anos, com barba mal feita, cachecol branco torneando o pescoço, lábios partidos e amarelecidos de frio e de nicotina.
- Qual o seu nome?! me pergunta seco.
- Fixo-lhe os olhos, sei que ele não me vê, nem eu o vejo...
Ah...meu nome? Qual seria mesmo o meu nome?
Sinto os pés gelados, a redoma inteira do meu corpo transpira o gélido tormento frio da angústia. Lembro-me de Kafka.
- Seu nome senhora?!
Sua carteira de identidade, por favor?
Reviro a bolsa, reviro...reviro tudo com meu olhar. A sala branca, gélida...uma figura escura debruçada sobre um grosso volume de versos no centro da mesa num patamar maior parece ser profundamente distancia nessa câmara – Difícil achar a identidade...não acho...reviro...reviro meu olhar....onde estaria eu dentro da minha bolsa... e não me encontro...não me encontro!!!
E qual seria o meu nome mesmo?! Sinto uma liquidez calcinante de placentas lamber-me da cabeça aos pés e um esquizofrenico torpor de uvas incestas na boca, mas, se não estou dentro daquela bolsa, nesta sou e estou só com alguns pertences que não me pertencem, arrendos, tudo arrendado... semoventes como eu, camelo, peixes, agulha, pedra, fósseis, verbos...viu? ! E, o meu nome....ah...um momento!
- Chamo-me Dor.... já lhe passo a identidade!
(líricas de um evangelho insano)
À minha frente o escrivão no computador:
- A senhora pode sentar-se aqui...por favor!
Arredam-se cadeiras, olho o rosto encovado do menino de vinte e poucos anos, com barba mal feita, cachecol branco torneando o pescoço, lábios partidos e amarelecidos de frio e de nicotina.
- Qual o seu nome?! me pergunta seco.
- Fixo-lhe os olhos, sei que ele não me vê, nem eu o vejo...
Ah...meu nome? Qual seria mesmo o meu nome?
Sinto os pés gelados, a redoma inteira do meu corpo transpira o gélido tormento frio da angústia. Lembro-me de Kafka.
- Seu nome senhora?!
Sua carteira de identidade, por favor?
Reviro a bolsa, reviro...reviro tudo com meu olhar. A sala branca, gélida...uma figura escura debruçada sobre um grosso volume de versos no centro da mesa num patamar maior parece ser profundamente distancia nessa câmara – Difícil achar a identidade...não acho...reviro...reviro meu olhar....onde estaria eu dentro da minha bolsa... e não me encontro...não me encontro!!!
E qual seria o meu nome mesmo?! Sinto uma liquidez calcinante de placentas lamber-me da cabeça aos pés e um esquizofrenico torpor de uvas incestas na boca, mas, se não estou dentro daquela bolsa, nesta sou e estou só com alguns pertences que não me pertencem, arrendos, tudo arrendado... semoventes como eu, camelo, peixes, agulha, pedra, fósseis, verbos...viu? ! E, o meu nome....ah...um momento!
- Chamo-me Dor.... já lhe passo a identidade!
domingo, 15 de junho de 2008
UMA PEDRA NÃO É UMA PEDRA
mAgritte
(líricas de um evangelho insano)
Uma pedra não é uma pedra,
é o fio da minha gravidade,
que sustenta e move o pêndulo
dos corpos, na calidoscopia grafia,
das incisões do meu olhar?!
Pedras sempre me encontram
pelos caminhos e
me sobrevoam as grotas, os ninhos,
tem asas...
Uma pedra suspensa revoa,
voa e guarda rochedos de
memórias dos meus olhos,
e se de cima me vê,
me lê em épuras os meus enredos,
sou goela funda,cratera fera,
boca aberta expelindo lavas,
grave ave, nave, atmosférica,
imensa bolha rarefeita,
pés afundados nas covas do chão,
pesada grávida de ar!
(líricas de um evangelho insano)
Uma pedra não é uma pedra,
é o fio da minha gravidade,
que sustenta e move o pêndulo
dos corpos, na calidoscopia grafia,
das incisões do meu olhar?!
Pedras sempre me encontram
pelos caminhos e
me sobrevoam as grotas, os ninhos,
tem asas...
Uma pedra suspensa revoa,
voa e guarda rochedos de
memórias dos meus olhos,
e se de cima me vê,
me lê em épuras os meus enredos,
sou goela funda,cratera fera,
boca aberta expelindo lavas,
grave ave, nave, atmosférica,
imensa bolha rarefeita,
pés afundados nas covas do chão,
pesada grávida de ar!
sexta-feira, 6 de junho de 2008
BORRA ASSINADA
http://www.bp3.blogger.com/
(líricas de um evangelho insano)
No fundo da xícara
a borra do meu olhar.
Dos olhos borrados de pó,
do orvalho salgado,
no (dó)i do teclado que ouço
e não entendo...
meu olhar geométrico
se perde na mancha abstrata,
onde assino?!
terça-feira, 3 de junho de 2008
NA OLARIA (PA)LAVRANDO PÓ
www.olhares.com
mal lavada, teu pó,
simulacro, teus cacos,
(Conjuração do Verbo com Sofia (zocha)))
Minha palavra as vezes
matéria viva, líquen,
corpo do meu corpo,
sai de mim e me volta,
regurgito -a
é dessa miserável
condição humana esse atrito,
dessa palavra polissêmica,
árvore de pelagem descascada,
de faces doídas, multifacetadas,
de versos apagados, senhas borradas,
ah...dói palavra, dói,
tua cara minha cara
mal lavada, teu pó,
simulacro, teus cacos,
cadencia de mim enrodilhada,
desse cordão umbilical, letal,
esticado éco dos meus abismos...
gravitação dessa hodierna
loucura, essa insólita palavra
só minha, privativa linguagem,
quiromância de funduras,
perdidas palavras, rupturas,
trilhas íntimas, águas turvas,
recurvas do mesmo, partituras?!
Na Olaria, a bilha quebrada,
só teus rumores sob o halo de fogo
do cinzel!...
segunda-feira, 26 de maio de 2008
VERBO OBSCURO
http://www.olhares.com/
(Conjuração do Verbo com Sofia (Zocha)))
Sou extremamente desconfiada de mim então desconfio
das palavras. Desconfio da teia das palavras, dos pontos,
das pinças, desconfio das rinhas que frequenta, a palavra
afunda meu espaçamento, o meu ser tempo, me oculta,
me engedra, me respira, mas, não me compreende nem
eu a compreendo. Devo ser-lhe uma caixa oca, com uma
ressonância louca de estupefação de gritos ancestrais da
minha maturidade, violentada no meu tempo/espaço.
Não bordejo, nem vaquejo, me enredo entre sinais que
contesto. Se é habitação me descuido em habita-la, se me
resvala, caio na sua vala, afundo na rala. Desconfio da
palavra, me recuso a entende-la, tento verga-la como o
junco, quebra-la como o cinzel, bebe-la do tonel do cálice
das minhas sangrias, mas, me asfixia, me endemonia, me
lanha, me verte e não me submete, não lhe faço rogo, não
me penitencia, não lhe considero verso puro, fico sempre
atrás dela, desconfiadamente, com meu olho aberto no
escuro, sangrando o meu verbo oculto...
sábado, 17 de maio de 2008
A SALGA
http://www.sapo.pt/
(líricas de um evangelho insano)
O lodo dos pântanos respira e me salga por dentro.
Sob a escuridão, vozes do sertão...
olhai meus lírios de sangue!!!
terça-feira, 13 de maio de 2008
UM GOGÓLICO DESTEMPO COM ZAVADSKI
http://www.thousands.com/
"executo meus versos na flauta das minhas vértebras..."
Maiakóviski
Ele era destempo, destemperado e gogólico,
empunhava a batuta, era pesado, monódico,
pisava firme, afundava o chão e parecia um
engolidor de almas. Ele era um destempo
impróprio à carnaduras, chegava sempre pelo
longo corredor da caverna e por aquela goela
de turbilhonante ansiedade dizia: - A profanação
retempera os desejos, recompõe heresias, é
preciso reconfrontar texturas, libertar-se do
caminho original, do caminho paternal, os animais
nas passagens quebram as bilhas na busca pela
água e comida. Na opressão da caminhada, no
pastoreio, rompem volteios, fogem de velhos
comboios que encontram ao acaso nas estradas,
escapam das similares prosas do mundo. Puxa
a corda umbilical do pião - completava, fugaz
é o gozo da humana condição. E, arrematava
a prosa sem leilão: - O homem é um forjador
de linguagens e no remoinho da história o
lugar é de combates. Avante animais, para
o abate! No fundo, talvez, o verbo, esse sôpro
de ruídos profanadores seja, apenas, um tempo
de incompletudes, do grunhido das coisas, um
tempo de recrias, da palavra sempre grávida
e do animal grávido, alquímica forragem!...
"executo meus versos na flauta das minhas vértebras..."
Maiakóviski
Ele era destempo, destemperado e gogólico,
empunhava a batuta, era pesado, monódico,
pisava firme, afundava o chão e parecia um
engolidor de almas. Ele era um destempo
impróprio à carnaduras, chegava sempre pelo
longo corredor da caverna e por aquela goela
de turbilhonante ansiedade dizia: - A profanação
retempera os desejos, recompõe heresias, é
preciso reconfrontar texturas, libertar-se do
caminho original, do caminho paternal, os animais
nas passagens quebram as bilhas na busca pela
água e comida. Na opressão da caminhada, no
pastoreio, rompem volteios, fogem de velhos
comboios que encontram ao acaso nas estradas,
escapam das similares prosas do mundo. Puxa
a corda umbilical do pião - completava, fugaz
é o gozo da humana condição. E, arrematava
a prosa sem leilão: - O homem é um forjador
de linguagens e no remoinho da história o
lugar é de combates. Avante animais, para
o abate! No fundo, talvez, o verbo, esse sôpro
de ruídos profanadores seja, apenas, um tempo
de incompletudes, do grunhido das coisas, um
tempo de recrias, da palavra sempre grávida
e do animal grávido, alquímica forragem!...
segunda-feira, 12 de maio de 2008
ENTRE CORRENTES UMA ELEGIA PARA NIKOLAO
WWW.SINSIWA.ORG
Meio longe ou meio perto só uma mancha imensa
na retina de borra da tela esmaecida. Não sei se
passo perto ou passo longe, se fico em cima ou se
fico embaixo, se o banco é alto, então, minha visão
é abaixo da linha do horizonte, mas a grande bacia
da água é muito grande, uma imensa cratera e gira
o meu olhar como em decanto, não consigo segura-lo
e a figura daquele homem como uma grande estátua
me horroriza. Como dificuldade olho a grande mesa,
há leite, pão feito em casa, canecas esmaltadas, mas,
não consigo ve-la...não a vejo, os pés de madeira bruta
sobem aos céus como grandes colunas. Me agarro com
dificuldade neles e consigo subir com dificuldade sobre o
banco. Aquele homem ao longe tem uma barba muito
longa, como uma velha árvore tombada permanece
naquela posição imóvel. Os circunstantes arrastam seus
enormes pés...ouço-lhes as correntes, há como é
terrível ouvior os sons de correntes, correntes que
degolam, assim o matadouro próximo daqui tá
fazendo agora, correntes que se usam em pescoços
com santinhos, correntes que em cadarços amarram
sapatos, que afundam pregos em sua sola...há o solado
dos sapatos e o velho sapateiro Lucidório que mora
no bairro Jardim Paulista, há alguns quilometros daqui
do escritório...com seus sapatos consertados, congelados
naquelas prateleiras com cheiro de cola, tinta e fungo de
pés... os pés que são suportes e arrastam correntes...mas,
a barba enorme daquele homem sentado continua
fustigando o meu olhar como uma imensa mancha
que o tempo, nem as águas das chuvas não conseguem
diluir...sua barba é uma enorme corrente serpenteando
as dobras do instante. E eu, não consigo segurar o instante,
a palavra foge, se esfuma, apenas a ouço e já a vejo
despregar-se no tempo, mas, a grande mancha se
reconfigura na tela e revejo com claridade atrás da
palavra o velho alemão, Nikolao, meu avô, com suas
longas barbas, os pés dentro da bacia de água cheia
de sangue e uma ferida profundamente escavada
sangrando-lhe intermitentemente de uma das
colunas de suas pernas...No vazio do espaço a
formatação das linhas das águas que se esvaem,
a barulheira na farmácia aqui ao lado, o cinza
recaído sobre o gramado da manhã, as correntes
se arrastando e se despetalando no mesmo ritmo,
tudo sempre se esfumaça, se rasga, sine die...
na retina de borra da tela esmaecida. Não sei se
passo perto ou passo longe, se fico em cima ou se
fico embaixo, se o banco é alto, então, minha visão
é abaixo da linha do horizonte, mas a grande bacia
da água é muito grande, uma imensa cratera e gira
o meu olhar como em decanto, não consigo segura-lo
e a figura daquele homem como uma grande estátua
me horroriza. Como dificuldade olho a grande mesa,
há leite, pão feito em casa, canecas esmaltadas, mas,
não consigo ve-la...não a vejo, os pés de madeira bruta
sobem aos céus como grandes colunas. Me agarro com
dificuldade neles e consigo subir com dificuldade sobre o
banco. Aquele homem ao longe tem uma barba muito
longa, como uma velha árvore tombada permanece
naquela posição imóvel. Os circunstantes arrastam seus
enormes pés...ouço-lhes as correntes, há como é
terrível ouvior os sons de correntes, correntes que
degolam, assim o matadouro próximo daqui tá
fazendo agora, correntes que se usam em pescoços
com santinhos, correntes que em cadarços amarram
sapatos, que afundam pregos em sua sola...há o solado
dos sapatos e o velho sapateiro Lucidório que mora
no bairro Jardim Paulista, há alguns quilometros daqui
do escritório...com seus sapatos consertados, congelados
naquelas prateleiras com cheiro de cola, tinta e fungo de
pés... os pés que são suportes e arrastam correntes...mas,
a barba enorme daquele homem sentado continua
fustigando o meu olhar como uma imensa mancha
que o tempo, nem as águas das chuvas não conseguem
diluir...sua barba é uma enorme corrente serpenteando
as dobras do instante. E eu, não consigo segurar o instante,
a palavra foge, se esfuma, apenas a ouço e já a vejo
despregar-se no tempo, mas, a grande mancha se
reconfigura na tela e revejo com claridade atrás da
palavra o velho alemão, Nikolao, meu avô, com suas
longas barbas, os pés dentro da bacia de água cheia
de sangue e uma ferida profundamente escavada
sangrando-lhe intermitentemente de uma das
colunas de suas pernas...No vazio do espaço a
formatação das linhas das águas que se esvaem,
a barulheira na farmácia aqui ao lado, o cinza
recaído sobre o gramado da manhã, as correntes
se arrastando e se despetalando no mesmo ritmo,
tudo sempre se esfumaça, se rasga, sine die...
sábado, 10 de maio de 2008
VERBO SONORO TE AMO
WWW.THOUSANDS.COM
DE SUA SIMPLICIDADE
"...atrás do pensamento não há palavras. É-se".
(Clarice Lispector)
VERBO SONORO TE AMO
PARA MINHA MÃE DONA HILDA
PELA GRANDEZA DE SUA FORÇA,
DE SUA SIMPLICIDADE
PELA TERNURA DE SUA VOZ (ELA CANTAVA)!
quinta-feira, 8 de maio de 2008
INCANDESCENTE
"...executo meus versos na flauta das minhas
das minhas vertebras..."
(Maikóviski)
A taça de espumas seca o signo.
A matéria mágica dos sonhos
se molda ao pensamento.
Meus dedos cegos de luz
se alimentam e moldam a argila
e o peso do teu breu molda
minha alma incandescente
Desde sempre moldam-se
os golpes da adaga,desde sempre
as margens e as cabeceiras das águas
são moldadas,desde sempre a talha
nos costados selvagens molda a boca,
a língua do vento que derrete o tempo,
da agulha que cose a pedra
e lancina a toda boca devorada!
segunda-feira, 28 de abril de 2008
MORADA DE VAGALUMES
quinta-feira, 24 de abril de 2008
SOLO
www.olhares.com
(Líricas de um evangelho insano)
Habito a fugacidade do tempo, o éco do instante.
Minha voz é livre, sou solo no éter, na pele do vento,
Bacchianas, cavalgo no dorso animal, do meu deus intenso!
segunda-feira, 21 de abril de 2008
CARNAÇÃO
sábado, 19 de abril de 2008
TORPOR
A VENDA DO RUFFINO
http://www.olhares.com/
(Reverbaras de Sofia (zocha))
Tinha queijos espalhados pelo balcão,
grandes queijos lunares, solares, redondos,
apetitosos, curtidos, langorosos, salgados...
tinha salsichos baratos dependurados,
contíguos aos salames cheirosos, ajeitados
às pesadas mantas de toucinhos defumados,
tinha cheiro misturado de comida e armarinhos,
pinduricalhos, copos que se fechavm e se abriam,
o balcão era alto, mas eu esticava os pés e via!
- Balas de goma, venenos de ratos, venenos contra
baratas, gasosa de framboesa, de limão, de abacaxi,
chapéus, muitos chapéus de palha e feltro, ervas de chimarrão,
cuias, bombas, tantos caixotes de lavraturas, caixas
e caixas de banha de porco e vegetal, que a gente passava
no pão com açúcar ou com sal...
Ah, sim, como havia barras e barras de chocolate e de
sabão amazonas. Também, aqueles vidros deitados,
gorduchos de doces, de "nariz sujo", aquele enrolado
de creme amarelo. Tinha balas de ovos, amarelinhas,
incríveis balas com côco, que a gente esquecia sempre
nos lugares impróprios, e os pirulitos então? Melecados
perto da neve dos algodões doces e das marias-moles
envoltas de côco queimado, aos montões, ficavam nos
vidros bem guardados.
Seu Rufino vendia também, novelos de lã simples, mais
baratos, de todas as cores, para todas as idades, que a
mãe comprava na conta e eu fazia os pullovers para
meus irmãos, que Maria, irmã de dona Edília que morava
numa casinha cheirosa na beira da linha do trem, me
ensinava. Ah mãe corajosa!...que quando as panelas
ficavam vazias lá ia ela na venda do italiano Ruffino e
mesmo não sabendo assinar direito o nome, ele a comida
fiada a conta lhe fiava o preito. E, depois, sempre silenciosa
em sua matemática de cabeça, eis que não sabia ler nem
escrever, ela preparava um talharim bem regado ao
molho de tomates e com maionese de batatas e frango
refogado com majerona levava o prato bem embrulhado,
quentinho, em cheirosos panos de algodão alvejado, pra
velha dona Conceição, encravada no leito, no fundo de
um quarto fétido que morava na Vila Lindóia e que em
silêncio ajudava! - Psiuu! quieta menina, segura direito
essa sacola...Me varava firme nos olhos!...
quinta-feira, 17 de abril de 2008
NAQUELA CASA DO TEMPO
www.olhares.com
(Reverberas de Sofia (zocha)/Carroção do Tempo (dos polacos)))
O pequeno jardim de ripas lancetadas
era amordaçado sempre por uma fechadura
enferrujada no portão. Sob o céu desnudo,
os olhos vesgos do buraco da fechadura
pareciam ter pouca importância naquelas
cercanias que guardavam aquela casa,
entre os arvoredos da rua Goiás. A calçada
de cimento descascado levava até a varanda
de tijolos no umbral das horas...
Ouço o cheiro do bolo recheado de creme de
abacaxi revestido de cobertura de clara de neve,
sob a singela mesa de fórmica vermelha, com bolinhas
douradas, piso correndo entre as pétalas vermelhas
caídas ao chão, o chão tem o ventre quente, a pereira
tá carregada de flores, embora das roseiras pendam
as dores, mas, os cravos cozinham rápido na panela
de pressão, a missa bizantina toca o sino na matriz
de dourada cúpula, Leontcho me olha do outro lado
da rua, o padre Silvio na Igreja Católica toma seu
café gordo sob a ajuda das beatas e nós, naquele dia,
com fome, o espreitamos à porta. Mas, ao lado
do bangalô de madeira espreitam-nos os olhos da
menina Soniasz, sempre pronta a lancetar-nos contra
as filhas de seu Emidio, o crente em constante vigília e a
cascalhar a rua Goiás de cacos de vidros, cuidando sempre
das atenções de Tchenko. Sob as cercas de ripas, Florami,
sua mãe faz a peregrinação diária pelo jardim de cravos,
solitária, acaricia com as mãos esquálidas os olhos
fundos nas covas de seu rosto de cera...parece afundada
no molde de sua própria argila, não consegue compreender
como as abelhas modelam com o próprio corpo a sua casa.
A sogra, de buço crescido carrega os arreios daquele mundo.
Mas, do outro lado de cá, da fronteira, sobre o sofá novo da
salinha desnuda, que como um santuário apenas guarda a
televisão nova marca Empire, com pés ponteagudos, pode
estar o chapéu de camurça cheiroso de meu pai...Quem sabe
terá chegado a noite, com sua maleta de viagem e seus
pullovers de tricot com olor tão estrangeiro para mim...
No guarda roupa de pinho envernizado, não há roupas
suas...mas, meus olhos bastardos estão a sentir-lhe o
cheiro. Sobre a mesa do tempo um copo d'água hoje
dobrável...alguns códigos escrevem agora esses poemas
descartáveis. Meus olhos parecem descartáveis também,
e engolfam, passantes, o avesso do outro lado da rua
do agora, pingam poemas, a gota contorcida, que sobre
o branco papel infringe e delita reincidencias...
quinta-feira, 10 de abril de 2008
REVERBERAS DE SOFIA (zocha)
http://www.thousands.com/
(Carroção do Tempo (dos polacos))
Quando a tarde cai e as cortinas decem,
pelos deuses, ainda ouço a voz nostálgica
daquele auto falante sonolento
da sociedade Guaíra, anunciando a
chegada e o começo do fim do mundo,
a festa de domingo, a geada de segunda,
a missa bizantina!
A rua Alagoas levanta a poeira cascalhada,
dona Emília acaba de batizar o recém-nascido
e agora está comadre de minha mãe,
mas, quando cai a tarde também cai a vida,
e Odete sua filha moça,
de pernas branquelas e grossas,
com sua bicicleta azul chegará
da fábrica da Linhagem
onde é operária.
Todos os dias leva marmita
no bagageiro da bicicleta
e a noite já pode experimentar
os mistérios do amor...
Paulinho, seu irmão,
espreita-me quando passo,
finjo que não o vejo, não quero saber dele,
oculta-se sempre sob a pérgula de heras e musgos
daquele macabro portão de madeira,
parece uma estátua mórbida
numa cripta medieval,
com suas imensas orelhas de abano,
ouvindo a acústica do mundo!
Não entenderei nunca o destino de Odete,
não entenderei nunca o destino de Paulinho.
Odete se casará de véu e grinalda,
Paulinho será ceifado aos vinte e um anos,
sua mãe se guardará na loucura,
continuará morando no mesmo lugar
e eu mudarei de endereço para pegar o ônibus
e ir pro colégio das freiras...
O muro de Berlim continuará erguido
e mesmo depois de caído ainda assim
não entenderei o destino,
e na Faculdade de Direito,
voce me beijará com seu sorriso
nas escadarias, na praça Santos Andrade,
enquanto o morno sol de inverno
derreterá a geada,
por entre as araucárias...
TANTOS ERAM OS PORTÕES...
(Reverberas de Sofia (zocha)/Carroção do
Tempo (dos polacos))
Tantos eram os portões de ripas, com suas taramelas
por dentro, de folhas sopradas nas casas do tempo...
tantos são os fantasmas noturnos que esvoaçam
entre as frestas daquelas cercas de pinho araucária
e açoitam aqueles portões e seguram os olhos,
que ressurgem ,assim, esses esquadros das pulsações da alma,
por entre os morcegos que vagueiam pelos beirais
e reviram as sombras entre os avessos dos chafurdados
porões, entre as réstias dos alhos!...
O céu degela , a vida recomeça.
Comadre Emília não pode mais ultrapassar os portões
de sua casa. Aprisionou-se, tem agora os olhos escavados
nas fundas grutas do rosto, encravaram-se na sepultura
do finado filho Paulinho o já sorriso tímido e os crivos das
das palavras. Nunca mais pisará o pé fora de casa, além
do portão frágil das cercanias de ripas em lanças. Ficará
como sua casa, encravada, circunscrita
entre os arvoredos, entre os beija flores e os morcegos,
entre cravos, flores de cera, begônias e avencas, com a
alma dependurada pelos fios das teias de arame que
seguram os vasos-latas na pequena varanda
e só chegará ao portão e contemplará o mundo
conversando por sinais e grunhidos, com a
polaca Nuska do outro lado da rua e os passantes
que a reconhecerem e ela pensar reconhecer...
A filha Odete acabará por ficar noiva de João,
terá quatro filhos, todos sairão à cara arretada do marido,
construirá uma casa nos fundos, ficará porta à porta com a mãe,
indefinidamente...
entre elas não haverá mais portões,
viverá numa singela casa mobiliada de móveis
de pinho, paneleiro de alúminio,
jogo de cozinha azul com caixão de lenha....e um dia não
muito distante enterrará um dos filhos ainda não nascido.
Os portões parecem alinhavar linhas demarcatórias, bastidores de riscados,
de indefinidas malhas geográficas, afivelar cercanias do pensamento
sob a película da concavidade do tempo,
e armam suas teias, erguem suas colunas,
e enfileiram-se como sentinelas, pensam anteceder
grunhidos, sons,
guardar casas, uns de olhos de ripas, outros, de ferro,
outros e outros de ferrolhos de alúminio, de aço!
Ontem, as últimas chuvas descamaram, descascalharam
a rua Alagoas. Grandes valas se abriram, se descarnaram
da terra com perigosas fendas para o trânsito além dos portões.
Odete continuará trabalhando na fábrica da Linhagem, há
alguns quilometros de casa, indo e vindo com a bicicleta
Axel, beirando a linha do trem perto da Usina de óleo coméstivel
Fanadol e subindo a rampa sulcada pelo degelo das enxurradas,
nas manhãs fechadas da gelada Curitiba. Assim, abrirará e
fechará todos os dias a taramelas do portão de ripas. Não esquecerá
de levar o cachecol de lã tricotado em ponto meia, enrolado em
volta do pescoço e da marmita de alumínio, na sacola de pano,
no porta-bagagem!...
Tempo (dos polacos))
Tantos eram os portões de ripas, com suas taramelas
por dentro, de folhas sopradas nas casas do tempo...
tantos são os fantasmas noturnos que esvoaçam
entre as frestas daquelas cercas de pinho araucária
e açoitam aqueles portões e seguram os olhos,
que ressurgem ,assim, esses esquadros das pulsações da alma,
por entre os morcegos que vagueiam pelos beirais
e reviram as sombras entre os avessos dos chafurdados
porões, entre as réstias dos alhos!...
O céu degela , a vida recomeça.
Comadre Emília não pode mais ultrapassar os portões
de sua casa. Aprisionou-se, tem agora os olhos escavados
nas fundas grutas do rosto, encravaram-se na sepultura
do finado filho Paulinho o já sorriso tímido e os crivos das
das palavras. Nunca mais pisará o pé fora de casa, além
do portão frágil das cercanias de ripas em lanças. Ficará
como sua casa, encravada, circunscrita
entre os arvoredos, entre os beija flores e os morcegos,
entre cravos, flores de cera, begônias e avencas, com a
alma dependurada pelos fios das teias de arame que
seguram os vasos-latas na pequena varanda
e só chegará ao portão e contemplará o mundo
conversando por sinais e grunhidos, com a
polaca Nuska do outro lado da rua e os passantes
que a reconhecerem e ela pensar reconhecer...
A filha Odete acabará por ficar noiva de João,
terá quatro filhos, todos sairão à cara arretada do marido,
construirá uma casa nos fundos, ficará porta à porta com a mãe,
indefinidamente...
entre elas não haverá mais portões,
viverá numa singela casa mobiliada de móveis
de pinho, paneleiro de alúminio,
jogo de cozinha azul com caixão de lenha....e um dia não
muito distante enterrará um dos filhos ainda não nascido.
Os portões parecem alinhavar linhas demarcatórias, bastidores de riscados,
de indefinidas malhas geográficas, afivelar cercanias do pensamento
sob a película da concavidade do tempo,
e armam suas teias, erguem suas colunas,
e enfileiram-se como sentinelas, pensam anteceder
grunhidos, sons,
guardar casas, uns de olhos de ripas, outros, de ferro,
outros e outros de ferrolhos de alúminio, de aço!
Ontem, as últimas chuvas descamaram, descascalharam
a rua Alagoas. Grandes valas se abriram, se descarnaram
da terra com perigosas fendas para o trânsito além dos portões.
Odete continuará trabalhando na fábrica da Linhagem, há
alguns quilometros de casa, indo e vindo com a bicicleta
Axel, beirando a linha do trem perto da Usina de óleo coméstivel
Fanadol e subindo a rampa sulcada pelo degelo das enxurradas,
nas manhãs fechadas da gelada Curitiba. Assim, abrirará e
fechará todos os dias a taramelas do portão de ripas. Não esquecerá
de levar o cachecol de lã tricotado em ponto meia, enrolado em
volta do pescoço e da marmita de alumínio, na sacola de pano,
no porta-bagagem!...
quarta-feira, 9 de abril de 2008
MEMORIAIS DE SOFIA (zocha)
www.thousands.com
(Carroção do Tempo (dos polacos))
(no Tempo dos Cordeiros)
Havia um tempo de cordeiros,
havia um tempo de aceiros,
de novelos brancos, de aneis de gelo,
tinha água da bica na cozinha,
as cadeiras toscas de palha
enredavam-se à mesa de pães,
modelados e patinados,
de claras e gemas de ovos caipiras.
Mas, havia também, um lume agonizante
naquela casa,
uma face torturada, uma fixação da morte
que recendia de nossas almas.
Havia um vazio de vento cortante
de casa moribunda,
uma prece vagante, rochosa,
de genuflexão doída, profunda,
uma masmorra gelada, petrificada,
aquela casa era alugada, quase geminada,
sempre acesa de círios ardentes,
o varão, meu pai, sempre ausente,
aquela casa era expropriada!
sábado, 5 de abril de 2008
UMA CANTATA E FUGA
www.thousands.com
De onde vens canção minha, de onde vens!
Para onde vais, para onde vais, que me habitas
nesta única gota d'água da minha pena?!...
quinta-feira, 3 de abril de 2008
quarta-feira, 2 de abril de 2008
CÍNTIA THOME E OS OLHOS DA POESIA
A nossa homenagem nesta página à poetisa, escritora, jornalista, professora universitária, pedagoga, conferencista, especialista em História da Arte Brasileira,CÍNTIA THOME, com vasto percurso de reconhecimentos literários estudou,também,
com o prof.italiano, crítico de Arte Pedro Manoel Gismondi e divulgou trabalhos e artistas -
nacionais com exposições e montagens da Geração 70 e 80 no Brasil, no eixo Rio-São Paulo,
por quinze anos e que participa, ativamente, nos campos literários e das artes plásticas em
nosso país.
MARIA CÍNTIA THOME TEIXEIRA PINTO é natural de Campinas/SP e nos honra
com sua escrita no Recanto das Letras, (onde participamos), de cuja literatura reconhecida nacionalmente, nos brindará com o lançamento do livro de poemas OLHOS DE FOLHA MINHA, no próximo dia 11 de abril de 2008, às 19,00 horas na Saraiva Mega Store (Shopping Iguatemi), de Campinas - Estado de São Paulo.
Os olhos da poesia de CÍNTIA THOME só mirando-os através do espelho de seus versos para sentir e experimentar a grandiosa viagem do sensível humano, quando nos conduz
às profundas e veladas interioridades do ilimitado e incircunscrito Verbo da linguagem da alma!
Saudações poéticas de luzes e sucesso para voce, querida poetisa!
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