sábado, 25 de setembro de 2010

Se eu fosse teu lírio do campo


imagem/Scott Pecks por Berussa





Se eu fosse teu lírio do campo não me perderia como formiga de plástico nessa primavera de olhares sintéticos,
seria testemunha da minha água viva e não deixaria engarrafar-me para satisfazer a sede
amotinada das minhas torres de papel.
Acreditaria na fidelidade e na fecundidade do grão do olhar único e não deitaria nas mansardas em delírios minhas secretas trovas a ti....
Se eu fosse teu lírio do campo/da minha nova pátria/ te amaria até o fim e te acordaria sempre com meu beijo quente em sol maior como este com que me acordaste hoje ao amanhecer...

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sábado, 18 de setembro de 2010

Que fizeste tu com minhas flores?


foto/Nuray Engin

(Antes de Heráclito as águas e as flores já eram de fogo e sangue!)

Que fizeste tu antes e depois do agora?
sopras e apagas e mesmo assim floresces
que fazes tu com essas flores do agora?
deixei-te bilhetes à porta do acaso
escrevi -acasos por bilhetes
escrevi no vaso no vento
escrevi na chuva e fora do tempo
e não me ouviste
então canto para não morrer
canto porque a flor sangra/tenho fome
e é preciso não morrer além das palavras
e mesmo assim só tu és ainda minha ventura
e desventura como diz Borges
Inesgotável e pura!

sábado, 11 de setembro de 2010

COÁGULO


foto/Lilian Lichowski




(Líricas de um Evangelho Insano)


Vivo e vou morrer
nesta floresta arcaica
sem nada saber
sem nada entender sobre a doçura
e o veneno desta flor...
sobre este coágulo que floresce leite!
Se pudesse eu derreteria os ventos
e sangraria em mim
as sílabas das crisálidas
desta dor de tua metáfora...


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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

FLORESCÊNCIA II


imagem de Scott Pecks por Berussa

(Líricas de um Evangelho Insano)

Em tuas secretas pétalas
bebo-te amado meu
contenho em meu corpo as tuas cores do leão
exalto a tua grafia de dragão
e sou tua criatura criada
nas linhas de Altamira alada
em único caligrama
em tua pele a quatro mãos
rés do chão sob tua luz
flutuo flor de tua lava!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ISTO NÃO É UM POEMA PARA MAGRITTE


pintura/Magritte





(Líricas de um Evangelho Insano)



O poema é feito de azeite?
Me gusta levedura natural,
misturo alho com leite,
um céu sem continente, sem novelo, hibernal,
isto não é um poema, não é uma prosa,
não é uma pátria. É uma pátria! E, talvez seja uma rosa!...
Uma coxia, mas, nunca um tribunal!
Ou será um funeral ocidental?!
Talvez um corrimão, uma demão,
um par de tênis deixado no corredor,
um condenado à espera da hora da câmara,
um poema pode ser bem uma tentativa,
uma nova nomenclatura de Marselhesa,
um delírio tremens de existir,
um endosso de Lombroso,
ou um cascalhar de algum grafite pelos riscos,
dos rios, das favelas, deste país sem chão...
de subsistir, de inexistir,
de rumorejar, de ser e retroceder,
de retrilhar os sonidos da contramão.
Um poema talvez nunca tenha a sua hora
do feijão.
Mas, talvez possa pincelar texturas,
com pátinas de gemas de tempo forçado, ainda não vivido,
de amadurecer pomos de amores d'outros coalhados,
no mó do gozo arrendado.
Tudo talvez seja o todo num poema que seja e não seja,
palavras soltas, apenas palavras,
sílabas mal calcinadas,
sinais perdidos na estrada,
só pra soprar bolhas,
de palavras de Hiroshima,
de sabão?!!!!