domingo, 30 de dezembro de 2007

ESTA CANÇÃO

Canto sob o papel de arroz.
Entre as mechas dessas cortinas
incenso o meu cio,
sob o tabernáculo da neblina.
Tudo me é espuma aos sentidos,
acústica de silêncios, os alaridos,
porque o sol daquele que não
te conhece está no ocaso,
mas, o do que te conhece
brilha incessantemente,
porque Hórus abre os seus olhos.
Sob os véus, no colo sagrado de Maat
grita um bando de íbis brancas,
sob a face irrevelada.
O santuário pode estar
envolto em trevas,
sob a pastagem da erva do tempo,
mas, na terra, o fôlego é pira!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

PÁGINAS DA ALDEIA /NA OLARIA AS TRILHAS DO PEABERU

....uma palavra uma vez viva,
uma palavra uma vez imolada,
meu pai, grande caboclo meu pai,
de botas longas, de longos estribilhos,
de carregadas tropas de versos, de minha
mãe, filha de imigrantes, destemida,
de pequeninas mãos em forma de berço...
...na capelinha da estrada abandonada me ajoelho,
escuto a santinha, desfolha-me no sangue o terço...


O CAMINHO MULTIPLICADO


Pedras, árvores, pão de torrentes,
todo reino morto sobrevive
se os candeeiros acenderem-se
sob as lufadas da tua memória.


Na olaria, no fundo da América,
no fundo de mim, no fundo de ti,
o múrmurio do relâmpago,
o trovão do regato,
da luz da pedra, uma chuva
de uma noite em ameríndia
e negra taça da bebida
do mesmo idioma de uma só raça,
na minha pele, na tua pele,
o mesmo corpo rasgado,
pelas trilhas dessa terra,
nossos caminhos multiplicados.

Trilha funda do guerreiro,
do nativo com suas "noites de jacarés",
com oito palmos de largura
e cinco mil quilômetros de extensão
desde o Atlântico até os Andes,
caminho de São Tomé!...

Só a lavra de teus passos
caminheiro,
escreveram e ainda escrevem
pelo chão do verso e do reverso desta terra,
a escrita de água magna,
desses pré-colombianos magmas.

Trilhas do sol de gramináceas sementes,
que glutinosas grudavam
sob os pés dos passantes,
e se multiplicavam com
os passos do caminhante...

Germinou e germina ainda,
o sonho e a lavra dos viajantes,
carrega as quimeras errantes,
lapida os vasos das cozinhas,
reacendem as grimpas
e o carvão anoitecido
da lenha dos fogões,
com suas brasas das funduras das minas,
das sinas, do corpo e da alma, da mente,
rechaça as turbas fechadas
da alcoolica selva da desmemória.

A trilha abriu o corpo nosso,
osso, fosso, continente,
multiplicando pão, peixes,
dores, sementes, muralhas.
Onde ficam os descobridores da América,
se testemunharam as aberturas das trilhas do sol,
o mesmo sangue vegetal dessas auracanas araucárias,
que alimentaram com seus frutos, pelos caminhos,
os nativos
e históricas sentinelas
com suas eriçadas lanças insepultas,
erguem-se guerreiras,
ainda hoje,
pelos mesmos vales e colinas,
desde ontem testemunhas,
multiplicadas?
Sob o anel do tempo,
não dormem as trilhas vivas
da memória,
sempre inacabadas...



FELIZ ANO NOVO!!!
FELIZ TRILHA DO SOL DE 2008!!!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

PÁGINAS DA ALDEIA/A CABANA

Um som distante e
a candeia acende a cabana.
Uma gravura no horizonte e
a noite se faz lendas
na planta da alma.
Mas, a cabana é de aço
nesses lençóis do pensamento,
luz neón da negação cósmica,
de uma urbana noite lendária,
e da rocha desses porões
a água parada faz poças
no rosto do asfalto.
A água é negra e bolha
o ar e a superfície do sonho.
Se volto a sonhar faço escalas
de subidas,
e a cabana brilha e me vê!

P.S ...folheando esses manuscritos de Páginas da Aldeia
o agradecimento desta aldeã ao BLOG LETRAS DE MORANGO, REVISTA RAW ,
(Revista dos Amigos Web)
do espaço GLOBOONLINERS, à escritora Madalena Barranco, Carlos Senna
desde aqui da Olaria, VERBO AD VERBUM, o verde verbo de raízes!

sábado, 8 de dezembro de 2007

PÁGINAS DA ALDEIA/O SOM DO GRANDE TAMBOR

Na aldeia da alma,
à grande mesa da Olaria
da sala do Ser e Estar,
onde o Verbo de cada dia
canta e conjuga o pão nosso,
ouvem-se ecos ...
é o som do grande tambor!
Há milênios dobram os sinos
pelos campanários,
sinos solitários,
que gritam a grande fome
e a dor do verbo Homem!
Mas, parece que não há
hora primeira,
nem hora derradeira,
quando o Verbo cansado
chega ancião disfarçado
e adormece na manjedoura
do homem-interior.
Acontece apenas,
o milagre da semente,
que no estábulo das noites escuras
da mente,
nasce NOITE FELIZ,
renascendo sempre da dor!
FELIZ NATAL!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PÁGINAS DA ALDEIA (na Olaria hij)



Neste cálice do pó

bebo as minhas sombras,

deste poema de argila do tempo

que sangra o fel e molha em

púrpura areia o meu rosto ,

enquanto crepita a chama das grimpas

no torno das horas,

meu olhar pés de raízes

afunda-se em rios

e na prenhez dos meus alvéolo, te busca,

onde estará voce agora, canção?