sábado, 30 de outubro de 2010

Lago da alma no corpo/III


ilustração/LReinhardt





(Líricas de um evangelho insano)
O que seria do vazio de uma casa sem memórias? Estico o fio e subo por ele e vou subindo, subindo e amarrando as pontas e retecendo esse arame de contas que vai segurar as gotas no meu varal quando a chuva vier e nele vou me enrolar como um carretel de Ibere (*)quando o tufão aparecer e quando a noite ficar des _semeiada, ficarei ainda assim com ele na escuridão captando reflexos pelas paredes desertas, ouvindo suspiro das minhas sombras regurgitando auroras, então de aranha malsã haverá uma maçã que num repente cairá sobre a cabeça de Newton e desde então meus pés jamais poderão deixar a roca dessa curiosa dança...

(*) Ibere Camargo/19l4/1994/pintor, desenhista, gravurista/mestre/notável expoente da arte brasileira do séc.XX

domingo, 24 de outubro de 2010

Lago da alma no corpo





(Líricas de um Evangelho Insano)

Desde
o princípio ele viaja carregando-me consigo além do tempo com as mil e uma
vozes dos caminhos do lago da minha alma em seu corpo...


www.lilianreinhardt.prosaeverso.net

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DOS TEUS PASSOS QUE OUÇO E ME DECANTAM








Sob o teclado da escuridão
as notas da tua imensidão
dos teus passos que ouço
além das cinzas do tempo
eles vergam a fome
da corola desta tua flor incandescente
e decantam em fogo e púrpura
o fôlego das ilusões dos alvéolos meus
A tua ternura floresce
as pedras crispadas
e o beijo silencioso
de tua correnteza acesa
desemboca impetuoso
Canção do meu cântaro
nesta minha boca de argila
rio de minhas fráguas
rio de noturno e soturno teclado meu
de tessituras além das nomenclaturas
Gravitam-me teus ecos
no deserto da minha respiração/
bebo dos teus versos de profundo e silencioso arquejo
além dos poros na forja dos sentidos meus...

domingo, 10 de outubro de 2010

Do verbo da ovelha da ovelha do verbo/releitura






(Líricas de um Evangelho Insano)
(releitura)

Na lã da infância se guarda o eterno
disse um alfabeto ancião sob florido cajado
de encovado sorriso descovado e de
cerne de cabelos de perfumada ausencia
Se perder do rebanho é como cair
da gravidade do poema a árvore
sem fazer-se renascenças
O eterno guarda o pastor nas ovelhas
da árvore
e o rebanho cuida das sementes
mesmo no vento da boca
II
O amor é um verbo de renascenças
soprado debaixo da pedra
levita os sonhos dela
e todo rebanho da janela cega
se Ilumina
III
Mas, amarga o sabor do rebanho e do pé do verbo
quando ficou sem sol sem quarar o poema
e os olhos se encardiram

IV
A lã teima o verbo e esquenta
o gelo da pedra de incenso das nuvens.
rebanhos de sementes na roca fiam
perdidos olores florescem...