terça-feira, 24 de novembro de 2009

DAS PALAVRAS





As palavras não podem mais
se conformar ao lugar onde estão
elas buscam novos circunflexos
que a água da boca saliva o verso
que o mel explode a bomba
e o mar cabe na língua salgada
e a verdade escapa na pipa
dos olhos que o vento flana
enquanto a pedra se faz
tua semente e chama!

domingo, 22 de novembro de 2009

ENQUANTO OS MENINOS DORMEM


pintura/Kansuet



( em Babel)
Dormem ainda guardados os meninos
nos homens marcados
com seus segredos degredos
dormem nos orfanatos da memória
dormem na história
com seus códigos indecifrados
dormem entre os semáforos das ruas
da cidade bélica do corpo
caminhantes ou habitantes dos últimos modelos das últimas naves
trafegam pelas esquinas escuras da indiferença
no colo da flor da própria pele
do abandono da febre
de si próprios
no colo da flor da civilidade
soltam pipas
soltam pipa no lixo das bocas
dormem os meninos por entre os seios da cidade louca
despida e sem leite
no vértice das ruas
com suas musas nuas
dormem no colo meu no colo teu
dormem no útero
daquele que veio e não nasceu
dormem nas estrelas no bicho papão que o gato comeu
entre as teias dos alvéolos de ozônio
Dormem os meninos homens sem céu sem sonhos
enquanto derretem o azul ...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PALAVRA





Dá-me a tua palavra de cheiro e saberei reconhecer
o sabor da florada de tua alma!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

AMANHECENTE


Queria passear de mãos dadas com a palavra sem conceitos
queria transformar as pedras em colméias
e gritar a Deus no céu do trovão
que o menino é sempre passarinho
e dá de beber na janela do mundo a todos os versos
até embriaga-los para
acordar como Manoel de Barros
as cores do amanhecer acordar as águas das fontes
revigorar os pés cansados dos montes
e calçar-lhes novas sandálias para não tropeçar n o zênite
levitar sobre a nomenclatura dos vermes
que esgarçam a palavra no frenesi dos abismos
dizer da alvura das tempestades além da escuridão
da gravidade da luz de todas as idades
dar de beber ao cântaro carregado de ansiedades
que fermenta as leveduras do chão
e sempre sorver de água fresca de verbos
recém –colhidos
queria assim...