segunda-feira, 13 de agosto de 2007

UMA PALAVRA UMA VEZ (iii)




...era trilha, grão de espiga,

sabugo verde, com cabelo de sol,

cara verde, olhos mangados,

uma palavra uma vez

beijosa escrevia o dobrado.

A palavra uma vez nasceu

sem ser nascida,

escorreu e lambeu ferida

sumo do talho, leite da seringueira

e se debulhou pelo chão

em toiceras, capim seco,

com lustro verde-limão,

mato nativo, sempre germinando,

ocultando as lambidas da fera

e as batidas da vida

nos cascalhos do coração!

sábado, 11 de agosto de 2007

A DEBULHA DA PALAVRA





Como uma tenra espiga

se debulha em grãos,

da fundura da palavra

desde sempre nasce a farinha,

renascem os mortos e suas raízes

e novos berços choram

entre os mortais deuses.

Há nessas planuras de grãos,

o ar livre

da aldeia recém-desperta,

o verde útero donde sempre

se gestam as folhas

até a descida das trevas às cisternas

e a brotação do sumo das ramagens.

- Que o furacão escurece o sol do mundo

e na debulha úmida da seiva,

a resina se faz cio de grão.

Como uma anoitecente veladura,

as tuas palavras em minha alma!