sábado, 21 de março de 2009

O TORNO ENTORNO/NO JARDIM DE SOFIA (zocha)

imagem/mnemosyne





Direito e avesso

lume que evapora dos teus olhos

essa linha divisória nunca divide

O torno entorno da massa me argila

Sou a eflúvea entrega da fiação

que te escreve nos vitrais da meação

a própria sílaba calcinada

no ritual de lava-pés sempre inacabado

Sou o teu lado nunca exposto

o beijo oculto que te respira

frente e verso em tua folha de rosto

sangue misturado

de ermidas longínquas

de coiotes silvados de cerrados capões

de trevas famintas de gargantas alquebradas

meu sangue verte-te ponto sideral

nestes cabelos de milho outrora verdes

em nuanças de trigais maturados

espigas debulham grãos calcinamem

pedras lavradas sulcadas pelas tuas águas

que te lava o corpo meu corpo entalhado no teu

vértice das mesmas horas cocção do mesmo breu

entre os anéis dos meus cabelos

em filigranas dores

anelos caligramam partículas

páginas dos teus!

quarta-feira, 11 de março de 2009

UM PÉ DE POEMA





Vou plantar um pé de poema

já esterquei a cova

fiz desova com minha pena

já arregacei os baldes da manga

fiz descarrego das veias

assim planto esse pé de poema no canteiro do agora

crivo nos cravos dos olhos meus

Bordarei sem palavras esses teus umbigos

adejarei borboletas além da barriga desta aldeia

Já reguei das bilhas borrifei as calhas com água benta

nas asas do verso o ácido da placenta

a terra te bebe o córrego

fio d'água escorre eternidade!

segunda-feira, 9 de março de 2009

SALMO APÓCRIFO/NO JARDIM DE SOFIA (zocha)





A tua luz hachura os meus sentidos

O meu corpo fragmento busca tuas eternidades

Entre um vale e outro lançam-se as vestes

e as minhas asas pousam-te os lábios

Suave roçar da minha pele respinga

os lençóis do tempo da tua argamassa

As nuvens escrevem além do que o vento traça

Selada liturgia!

terça-feira, 3 de março de 2009

SÓ UM CANTO

pintura/Khalil Gibran



Só um canto e a luz acorda

a orgia celeste recomeça

em minha alma agreste

tu és a carne do meu sonho

o espaço a pausa a laceração

desse anjo demônio

dessa lousa ferida

entre essas cordas que plangem

toco-te ainda vestal

com minha saliva de vinhas

no calabouço dessa pedra sangrada

em veneno e loucura

a tua pele rasga o sal

da ancestralidade da minha!