quarta-feira, 25 de junho de 2008

SÓ A ROSA É ROSA E MAIS ROSA

www.cespe.unb.br




(líricas de um evangelho insano)


...Intertexto com o poema LA LENGUA DE EINSTEIN do poeta

YOUSSEF RZOUGA, de Túnez (Tunísia)



"....otra guerra empleza bárbaramente

comienza el espectáculo:

um poema de casco verde hace strip-tease

jugando al cometa

y sacando la lengua de Einstein

entre poema completamente desnudo

y espectadores hay roces

es otra vida posible

en esta aldea global

pero me da miedo en la capa de ozono

"colorin colorado...

este poema se ha acabado.."



Esse poema desnudo caminha nú

atrás de mim e dentro de mim

me caminha esse poema

com sua nudez!

Neste céu de inverno de roseirais

rosal do meu sangue,

grunhe com seus estalidos

de fogo nú a pira ancestral

da minha aldeia,

esse grunhido escreve do crepitar

das chamas, o espetáculo da guerra

dessa escrita, do duelo

dessas horas frias, malditas,

enquanto esse poema

me caminha nú,

e lambe o meu corpo

com sua língua primitiva,

te escreve sobre os meus charcos

de crocodilos e se guarda

em senhas por entre os ovos

das minhas tarturgas,

e os seus refundos rastros

mancham sobre as águas de rosa,

os passos desse meu sol de sangue,

que não pode derreter

com seu manto róseo

esse véu de ozônio dos meus pulmões...

Meus ombros gaia

não podem ficar desnudos!

Grito, grito entre os escombros

dessa língua de Einstein, grito

pela fecundação da poeira cósmica

dos meus sonhos!!!


quarta-feira, 18 de junho de 2008

DEPOIMENTO PESSOAL (1)

www.defensormaldito.com

(líricas de um evangelho insano)


À minha frente o escrivão no computador:
- A senhora pode sentar-se aqui...por favor!
Arredam-se cadeiras, olho o rosto encovado do menino de vinte e poucos anos, com barba mal feita, cachecol branco torneando o pescoço, lábios partidos e amarelecidos de frio e de nicotina.
- Qual o seu nome?! me pergunta seco.
- Fixo-lhe os olhos, sei que ele não me vê, nem eu o vejo...
Ah...meu nome? Qual seria mesmo o meu nome?
Sinto os pés gelados, a redoma inteira do meu corpo transpira o gélido tormento frio da angústia. Lembro-me de Kafka.
- Seu nome senhora?!
Sua carteira de identidade, por favor?
Reviro a bolsa, reviro...reviro tudo com meu olhar. A sala branca, gélida...uma figura escura debruçada sobre um grosso volume de versos no centro da mesa num patamar maior parece ser profundamente distancia nessa câmara – Difícil achar a identidade...não acho...reviro...reviro meu olhar....onde estaria eu dentro da minha bolsa... e não me encontro...não me encontro!!!
E qual seria o meu nome mesmo?! Sinto uma liquidez calcinante de placentas lamber-me da cabeça aos pés e um esquizofrenico torpor de uvas incestas na boca, mas, se não estou dentro daquela bolsa, nesta sou e estou só com alguns pertences que não me pertencem, arrendos, tudo arrendado... semoventes como eu, camelo, peixes, agulha, pedra, fósseis, verbos...viu? ! E, o meu nome....ah...um momento!
- Chamo-me Dor.... já lhe passo a identidade!

domingo, 15 de junho de 2008

UMA PEDRA NÃO É UMA PEDRA

mAgritte


(líricas de um evangelho insano)


Uma pedra não é uma pedra,
é o fio da minha gravidade,
que sustenta e move o pêndulo

dos corpos, na calidoscopia grafia,
das incisões do meu olhar?!
Pedras sempre me encontram
pelos caminhos e
me sobrevoam as grotas, os ninhos,

tem asas...
Uma pedra suspensa revoa,
voa e guarda rochedos de
memórias dos meus olhos,
e se de cima me vê,
me lê em épuras os meus enredos,
sou goela funda,cratera fera,

boca aberta expelindo lavas,
grave ave, nave, atmosférica,
imensa bolha rarefeita,
pés afundados nas covas do chão,

pesada grávida de ar!





sexta-feira, 6 de junho de 2008

BORRA ASSINADA

http://www.bp3.blogger.com/

(líricas de um evangelho insano)



No fundo da xícara

a borra do meu olhar.

Dos olhos borrados de pó,

do orvalho salgado,

no (dó)i do teclado que ouço

e não entendo...

meu olhar geométrico

se perde na mancha abstrata,

onde assino?!

terça-feira, 3 de junho de 2008

NA OLARIA (PA)LAVRANDO PÓ

www.olhares.com

(Conjuração do Verbo com Sofia (zocha)))



Minha palavra as vezes
matéria viva, líquen,

corpo do meu corpo,

sai de mim e me volta,

regurgito -a
é dessa miserável

condição humana esse atrito,

dessa palavra polissêmica,

árvore de pelagem descascada,

de faces doídas, multifacetadas,

de versos apagados, senhas borradas,

ah...dói palavra, dói,

tua cara minha cara


mal lavada, teu pó,

simulacro, teus cacos,

cadencia de mim enrodilhada,

desse cordão umbilical, letal,

esticado éco dos meus abismos...

gravitação dessa hodierna

loucura, essa insólita palavra

só minha, privativa linguagem,

quiromância de funduras,

perdidas palavras, rupturas,

trilhas íntimas, águas turvas,

recurvas do mesmo, partituras?!

Na Olaria, a bilha quebrada,

só teus rumores sob o halo de fogo

do cinzel!...