quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SALGANTE


(líricas de um evangelho insano)
Pode ser qualquer texto,
talvez este, o mais exposto,
o menos guardado,
este amarrotado,
sem sentinela na torre,
bolinha de papel
quase afundado
na lixeira de costume,
nada de códigos,
tudo se remumifica
sob o verbo selado,
um cheiro ocre de cebolas
e continentes,
um bálsamo de cedro,
uma coifa guardando a fumaça,
tudo a céu aberto, no rendilhado.
Tudo pode ser um grito perdido,
um grito ouvido, um verbo salgado
sob 0 galho de uma árvore,
o peso e a leveza
do estalido no copo, no corpo,
do gemido fervido
da chaleira anunciando,
o toque da campainha,
o cincerro da ovelha,
o opúsculo dos cães,
a pastoral do amanhecer.
Qualquer texto escreve-se
sem iniciais em pré-texto,
sem recontagens de tempo,
desde que me ouças!

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