segunda-feira, 26 de maio de 2008

VERBO OBSCURO

http://www.olhares.com/
(Conjuração do Verbo com Sofia (Zocha)))



Sou extremamente desconfiada de mim então desconfio

das palavras. Desconfio da teia das palavras, dos pontos,

das pinças, desconfio das rinhas que frequenta, a palavra

afunda meu espaçamento, o meu ser tempo, me oculta,

me engedra, me respira, mas, não me compreende nem

eu a compreendo. Devo ser-lhe uma caixa oca, com uma

ressonância louca de estupefação de gritos ancestrais da

minha maturidade, violentada no meu tempo/espaço.

Não bordejo, nem vaquejo, me enredo entre sinais que

contesto. Se é habitação me descuido em habita-la, se me

resvala, caio na sua vala, afundo na rala. Desconfio da

palavra, me recuso a entende-la, tento verga-la como o

junco, quebra-la como o cinzel, bebe-la do tonel do cálice

das minhas sangrias, mas, me asfixia, me endemonia, me

lanha, me verte e não me submete, não lhe faço rogo, não

me penitencia, não lhe considero verso puro, fico sempre

atrás dela, desconfiadamente, com meu olho aberto no

escuro, sangrando o meu verbo oculto...

2 comentários:

mundo azul disse...

Por vezes, a palavra escrita nos parece um tanto estranha...Como o filho que tomamos nos braços, logo que nasce...Estranha-se o palpar concreto de algo que antes, era apenas uma sensação... Mas, por vezes, as palavras são verdadeiras e confiáveis!
Perfeito o seu texto!
Beijos de carinho e muita luz no seu coração...

Madalena Barranco disse...

Querida Lilian, a palavra vive em sua poesia e percorre as artérias de cada verso maravilhoso.

Beijos e uma ótima semana para você.