sábado, 19 de abril de 2008

A VENDA DO RUFFINO

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(Reverbaras de Sofia (zocha))



Tinha queijos espalhados pelo balcão,

grandes queijos lunares, solares, redondos,

apetitosos, curtidos, langorosos, salgados...

tinha salsichos baratos dependurados,

contíguos aos salames cheirosos, ajeitados

às pesadas mantas de toucinhos defumados,

tinha cheiro misturado de comida e armarinhos,

pinduricalhos, copos que se fechavm e se abriam,

o balcão era alto, mas eu esticava os pés e via!

- Balas de goma, venenos de ratos, venenos contra

baratas, gasosa de framboesa, de limão, de abacaxi,

chapéus, muitos chapéus de palha e feltro, ervas de chimarrão,

cuias, bombas, tantos caixotes de lavraturas, caixas

e caixas de banha de porco e vegetal, que a gente passava

no pão com açúcar ou com sal...

Ah, sim, como havia barras e barras de chocolate e de

sabão amazonas. Também, aqueles vidros deitados,

gorduchos de doces, de "nariz sujo", aquele enrolado

de creme amarelo. Tinha balas de ovos, amarelinhas,

incríveis balas com côco, que a gente esquecia sempre

nos lugares impróprios, e os pirulitos então? Melecados

perto da neve dos algodões doces e das marias-moles

envoltas de côco queimado, aos montões, ficavam nos

vidros bem guardados.

Seu Rufino vendia também, novelos de lã simples, mais

baratos, de todas as cores, para todas as idades, que a

mãe comprava na conta e eu fazia os pullovers para

meus irmãos, que Maria, irmã de dona Edília que morava

numa casinha cheirosa na beira da linha do trem, me

ensinava. Ah mãe corajosa!...que quando as panelas

ficavam vazias lá ia ela na venda do italiano Ruffino e

mesmo não sabendo assinar direito o nome, ele a comida

fiada a conta lhe fiava o preito. E, depois, sempre silenciosa

em sua matemática de cabeça, eis que não sabia ler nem

escrever, ela preparava um talharim bem regado ao

molho de tomates e com maionese de batatas e frango

refogado com majerona levava o prato bem embrulhado,

quentinho, em cheirosos panos de algodão alvejado, pra

velha dona Conceição, encravada no leito, no fundo de

um quarto fétido que morava na Vila Lindóia e que em

silêncio ajudava! - Psiuu! quieta menina, segura direito

essa sacola...Me varava firme nos olhos!...



3 comentários:

eder ribeiro disse...

aqui me achei, posto que o muito do relato pertence tbm minha infância. Muito belo. Bjos.

Anônimo disse...

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Madalena Barranco disse...

Lílian, querida, sua mensagem é aquecida pelas lembranças tendo ao céu uma fatia de queijo de Lua... Que delícia de poema! Beijos.