sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sua hora sempre com


pintura/Paul Klee

(Memoriais de Sofia/Zocha)

Quando a noite enluarada prateava e transgredia a escuridão acontecia o milagre da rendição. Os canteiros verdes das alfaces
afofados um a um irrompiam sob a senha dos olhos e acontecia agora transformarem-se em rosais prateados. Quem a visse sob o sol quente com lenço e chapéu na cabeça transplantando as mudas uma a uma desconheciam as contas daquele rosário. Esterco de galinha, bosta seca de vaca, folhas secas e espigavam o milharal de folhagens, as avencas e a varanda se vestia e sob o telhado do velho paiol o rendilhado do maracujeiro com suas floradas e seus frutos cheirosos levitava a noite de Araruna com os seus canteiros...Havia o passeio das sombras escuras na alma. O passeio das estrelas mortas e das esperas sufocantes, havia paredes que se erguiam até a cumeira dos céus e Zocha via quando de lá despregavam-se suas lágrimas...

Mas,o abacateiro gigante, no fundo do quintal, qual um farol de vigia sob o verdejante mar das suas hortaliças, aconchegava os pomos verdes, orvalhados, a areia azulada revolvia a aspereza dos pés. Havia em suas mãos um estranho cinzel que ao manipular a substancia das sementes acontecia a transformação da tela. No terreiro o feijão abria as vagens, as tranças de cebolas cheirosas espargiam-se sob o olhar dolente da carroça cansada do cinzelar das mãos daqueles invisíveis arreios. Não havia hora, sua hora sempre era com o cantar do galo, havia uma tábula sempre a escrever e quem diria que ela se habitava insólita, carregando o gume da adaga e que, ele distante sempre chegava tarde e raramente a via naquele despertar....

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