" (executo meus versos na flauta de minhas vértebras...)"
Maiakóviski
Já faz um número de poentes,
de sapatos gastos,
que o carroção dos polacos
apeava com seus cavalos mansos,
à porta do bangalô, na Vila Guaíra,
com o comércio das porcelanas.
Vinham acondicionadas em caixotes
de madeira, com palha de milho,
e eram trazidas da cidade de Campo Largo.
Ficávamos dependuradas, eu e minhas irmãs,
nos sarrafos da cerca
mastigando a lanha das felpas,
como trapezistas ansiadas,
com os olhos brilhantes espiando as compras.
A polaca de lenço branco até a testa
tinha a pele enferrujada como a minha
e minha mãe orgulhosa,
ia montando palmo a palmo
na cristaleira de pinho envernizado,
dos móveis novos da sala de jantar,
a louçaria delicada que comprava,
uma a uma, a prestação,
e que vinha como relicário,
transportada pelos estradões de pó virgem,
por aquele pesado carroção...
Um comentário:
Lilian, entre poentes e auroras você tece a poesia da aldeia, comandando um carroção do passado, para enternecer o presente.... Lindo! Beijos.
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