sábado, 9 de maio de 2009

AQUELES PÃES DE SOL

Millet


(...para minha mãe que amava e cultivava as margaridas) releitura poética


Aquelas mãos pequeninas

debulhavam os grãos

e misturavam a dor e a farinha de trigo

o óleo o sol a água o fermento o colo

o unguento...

Algumas horas deitavam a massa

dentro da suave concavidade do berço

e recoberta por um singelo véu

de algodão alvejado

meu olhar também ali

cingia-se na expectativa do repouso

Horas depois do longo sono

suas mãos coreografavam

a flexibilidade dos grãos

e da massa que lentamente

assumia a forma aos seus toques

Pães de sol cheiravam do forno quente

e recobertos pelos mesmo véu branco

impregnavam de ternura a minha vida

os espaços das minhas formas

e impregnam a minha saudade...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

ETER_NO FOGO/LÍRICAS DE UM EVANGELHO INSANO

Rembrandt




Desde ontem quando a arca emergiu das águas

e salvou as vozes da eternidade

que habitam a concha da minha lâmpada

queimam meus rios em chamas

além das vestes da minhas ramas

com seus tufões que me despem

e assim desnudas gritam teu nome no labirinto

quando te chamo
que o amor arde em outra língua

além da palavra!