(Carroção do Tempo (dos polacos)
" executo meus versos na flauta das minhas
vértebras..." (Maiakóviski)
Ao longe, do espigão da curva
da poeirenta estrada,
onde os olhos pasmam os gemidos do tempo
ouvem-se ainda, os chiados do pesado concerto
do carroção que acaba de chegar da cidade,
onde foi levar a última colheita
de abóboras, repolhos, batatas, milho,
feijão...No varejo do tempo fez
a entrega da produção da ceifa.
Zavadski na chácara, em Araucária,
entre os roseirais acompanha
os gemidos daqueles roldões...
por momento lembram-lhe
as sirenes dos campos de refugiados...
lembram-lhe os girassóis humanos amontoados
nos comboios...lembram-lhe...lembram-lhe...
O acorde silencioso daqueles gemidos dobram,
cortam o silêncio dos roseirais, sob o concerto
da manhã passarada. A manhã orvalhada lhe acaricia
a concha dos olhos...
Noite e dia os roseirais de Zavadski lhe comem as carnes.
Desde que chegou às terras geladas de Curitiba
sentiu o aconchego polaco de sua Polska distante,
desde que acordou num tempo vazio,
compreendeu como Napoleão,
que a geografia tem muito a ver
com o destino do homem.
Assim, o cumpria desde que havia percebido
que sua alma carregava a pátria
também nas memórias de seu corpo
e que sobre sua pele os espinhos dos roseirais
haviam escolhido o seu duro granito.
E sob a incandescência as lágrimas
lhe brotavam quentes entre os desvãos,
quando do suplício das brotações...
Agora era possível entende-lo
com as Catilinárias de Cícero, os dativos,
e genitivos, os vocativos , os nominativos das declinações,
ouvindo-o ao toque da batuta daquele giz
sob o halo da lousa fria
e compreender o porquê lecionava aulas de latim,
no Colégio Estadual do Paraná,
com as unhas sujas de terra!...
Um comentário:
Querida Lilian, com os espigões das curvas do caminho, e até com espigas de milho, você tece histórias incríveis e nostálgicas, que crescem a beira das aldeias da vida e ainda assim, com toda a poesia... Beijos.
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