quinta-feira, 14 de agosto de 2008

VIA ÚNICA

Maiastra/Brancusi

(líricas de um evangelho insano)



Pode haver um sentido

único debaixo dos pés!

Mão única? Única via, diga-me!

Contemplo teu rosto único

de Toten e tuas múltiplas

sombras desenham

esse azul único.

Nos olhos do espelho

os reflexos da cidade camuflada

fervilham abaixo da linha do trem,

sob a escada rolante do arco-íris,

no delta da íris,

muitas rodas de gigantes de íxion,

rodas do tempo d'água,

deste beiral incandescente.

Esse pássaro me acorda

o dia nessa roda gigante,

com suas línguas de manhãs,

em fogo e hortelã.

A cidade eclode seus mortos,

há uma cidade viva abaixo

da linha do trem,

uma cidade de poros acesos,

de membranas diáfanas,

de fósseis regenerados,

debaixo do azul dessas manchas solares,

há escombros dessa cidade pulverizada.

O homem chora diante do monumento.

Mondrian decompõe a geometria da

árvore entre verticais e horizontais,

explodem as tangências do arco-íris,

o ponto da abóboda da catedral, de cristal!

Essa cidade tem rosto de tigre,

gosto de sal ocidental,

esses monumentos projetam

pesadas sombras,

os moluscos reprocriam sob a pedra

que pesa o meu olhar diante de Maat

e não consigo carregar o pássaro.

Maiastra de Brancusi,

canta em mim esse azul,

há muitas vias numa única via,

os alfinetes espalham-se diante

dos monumentos...

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