(líricas de um evangelho insano)
Pode haver um sentido
único debaixo dos pés!
Mão única? Única via, diga-me!
Contemplo teu rosto único
de Toten e tuas múltiplas
sombras desenham
esse azul único.
Nos olhos do espelho
os reflexos da cidade camuflada
fervilham abaixo da linha do trem,
sob a escada rolante do arco-íris,
no delta da íris,
muitas rodas de gigantes de íxion,
rodas do tempo d'água,
deste beiral incandescente.
Esse pássaro me acorda
o dia nessa roda gigante,
com suas línguas de manhãs,
em fogo e hortelã.
A cidade eclode seus mortos,
há uma cidade viva abaixo
da linha do trem,
uma cidade de poros acesos,
de membranas diáfanas,
de fósseis regenerados,
debaixo do azul dessas manchas solares,
há escombros dessa cidade pulverizada.
O homem chora diante do monumento.
Mondrian decompõe a geometria da
árvore entre verticais e horizontais,
explodem as tangências do arco-íris,
o ponto da abóboda da catedral, de cristal!
Essa cidade tem rosto de tigre,
gosto de sal ocidental,
esses monumentos projetam
pesadas sombras,
os moluscos reprocriam sob a pedra
que pesa o meu olhar diante de Maat
e não consigo carregar o pássaro.
Maiastra de Brancusi,
canta em mim esse azul,
há muitas vias numa única via,
os alfinetes espalham-se diante
dos monumentos...
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