sábado, 9 de agosto de 2008

PARÁGRAFO POÉTICO COM A POESIA DE YOUSSEF RZOUGA NA CONTEMPORANEIDADE



"...há que fazer -se calar os cães enquanto florescem os roseirais..."

(Youssef Rzouga)


Com uma vida dedicada à poesia há quatro décadas, escrevendo em várias línguas, o poeta tunisiano YOUSSEF RZOUGA de expressão árabe e francesa experimenta e inova a palavra e sua substância poética na contemporaneidade, reatirculando uma experimentação estética inovadora com a poesia, à qual se infere de uma multifacetada eclosão de visões perspécticas no contexto de suas escrituras poéticas. Seu trabalho é notório tanto na África Setentrional, na Europa como no Oriente Médio.YOUSSEF RZOUGA é natural de Ksour Essef , Tunísia e possui obras reconhecidas mundialmente com inúmeras premiações, dentre elas o Grande Prêmio da Literatura Árabe do ano de 2004, pela totalidade de suas obras, o prêmio Escudo de Diván Al- Arab, Egito, 2005. A experimentação estético-literária de RZOUGA, de singularidade e abrangencia universal apresenta inquietantes caminhamentos de exasperação e inquietação. A sua poesia ao experimentar-se em vários idiomas adentra signos universais da linguagem, percorrendo raízes comuns das várias línguas em que se inscreve, resgatando conteúdos vivenciais, históricos, humanos, percorrendo raízes ancestrais comuns. Se, a modernidade ocidental se caracteriza historicamente como assenta Foucault pela fragmentação da linguagem, com a falência histórica do discurso da representação e consequente autonomia da Literatura, como disseminadora da palavra e depositária de saberes, nesse contexto alinhava-se uma articulação de redimensões no embate da palavra poética que se experimenta em Rzouga. Sua poesia emergindo por entre os escombros da pulverização do sujeito moderno faz profundas reescavações significantes, como a permear e recompor sentidos perdidos de uma linguagem desconstruída e fracionada, como a reabrir na obscuridade brechas por onde possam ser refletidos filamentos de dimensões ancestrais das mesmas vozes da alma, num especial e secreto jardim, como a coexistir essa intimidade de fluxos a Bataille. Sua poesia dissemina a palavra, dialoga rejuntamentos, aspira à interioridade, um caminhamento de dentro, recolhe a inquietude do embate coloquial do instante, o qual condensa com vitalizante pulsação. Como uma pedra que atirada ao lago perfura a superfície e rasga a pele do mundo, as sombrias teias do olhar, a cortina do templo, movimenta elipticamente as dobras labirínticas do ser, abrindo profundidades, criando espasmos, resgatando sensações. Parece apreender os rostos, as faces das coisas, das formas, do agora, do ontem, do amanhã, no tubo de ensaio da árvore cósmica, num retorno a uma inquietação e uma busca interior, secreta, onde da escuridão podem brotar respostas. É móvel, flexível, dura, áspera, sempre inacabada, perscrutante, vitalizadora, "corazon a corazon" como canta, indomável, selvagem, terna, concha que guarda a ostra e sua ferida secreta, a palavra que se enuncia e diz e se guarda, se vela e se revela além do enunciado, buscando a complementação da vivencia enriquecedora, a substância da rosa de carne da palavra viva-alga, água, a mesma substância que pode matar a sede e a fome de um lado ao outro do mundo, caminhante do exterior ao dentro, sístole e diástole, desde a micro à macro-aldeia. Um toque reconhecível de um clarim eclode!!!

...diz a poesia de RZOUGA,

"..um de nós,

tanto gritou

que perdeu a voz...


...ela é como eu,

quase obrigada a dançar

na corrente de ar,

dá-me esse livro,

quero outra asa livre

para voar até alí

no sentido inverso

dos ponteiros

do meu relógio,

quero percorrer

esta distância atroz

para beber esse rio ávido,

outra vez,

deste jardim secreto,

um jasmim tunisiano

vai de viagem,

até alí,

é só abrir a janela,

para apalpar

a verdade branca,

de um cheiro selvagem!...

Só tenho uma flor,

a quem é que me

devo dirigir?

Está escuro em

todo o lado,

é necessário fazer algo!

Faço o que posso,

mas este ascensor está avariado,

por isso devo subir as escadas,

de quatro em quatro,

no rés-do-chão,

há espaço para todo o mundo

sob a égide do vigia (guarda/noturno).

No primeiro, não há ninguém,

no segundo, também não,

no terceiro, nada de interessante,

no quarto, nada de nada,

no quinto, um gato esconde outro,

no sexto, uma porta entreaberta,

no sétimo... até que enfim!

Ufa, a jarra não se partiu! "


"....é preciso fogo

para incendiar o sentido único

da cidade triste..."

"em silencio,

faço o que posso,

um poema para

voce por exemplo...


"está escuro em todo o lugar,

vamos escrever algo no escuro?..."



"...este mar faz parte de minha

aldeia global..."

" nós somos pássaros migradores,

só para voar como deve ser

em forma de um coração gigante,

baixo e alto e no sentido inverso

dos ponteiros de um relógio,

só para ter a possibilidade

de compor outra canção paralela

ao comboio rápido, dó, ré, mi, fá, sol!.."








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