(líricas de um evangelho insano)
Este canto ferve a semente,
espirala o centeio,
flama o magma
do corpo,
este canto não é um canto
de azeite.
O grande rio convida
à meditação,
meu véu de neblina
cobre-me o rosto,
o silêncio te fecunda
em mim,
o pano de fundo
é queimado,
o sudário engastou-se
sob a minha pele
d'água,
a cidade morta se
engalana
com seus monumentos
de neón,
mas,
a floresta respira
pelos poros da epiderme
de suas pedras.
O amor é fome desse
submerso jardim,
um vinho ácido
de ancestralidades,
na boca cúmplice
da alma.
Esta ária não dói
nem um pouquinho
na flauta do tempo
das minhas vértebras,
girassóis em golfadas
sob o vitral rodopiam
há muita léguas.
Tiro as sandálias,
teu canto me embevece...
Deixa a eternidade
salgar-te.
Nada sei sobre o mar,
mas ele tudo me sabe.
Ele como tu
emerge com suas turbas
em minha alma
e apreende-me
com as crinas
de suas ondas,
de guizos e crisântemos
coroadas.
Reconhece-me
pelos pés,
sabe dos meus caminhos,
reconhece minhas ninféias
e resvala minha geografia
com seu tato líquido
de ternura.
Deixa a eternidade salgar-te,
a água qual pólen
vorazmente incendeia
o torrão,
nesse corpo de sal...
2 comentários:
Ao terminar de ler o seu poema, parece que volto de um outro mundo...Lindíssimo!
Beijos de luz e muita alegria no seu coração!
Querida Lilian,
Em seus poemas eu descubro a história da natureza desde o ventre das pedras até os dias de ser humano...Que lindo! O mar lhe reconhece os pés...
Beijos, tenha uma linda semana em sua aldeia de flores.
Madá
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