(Maiakóvski)
Os jardins suspensos da Babilônia seriam
os altares da nossa infância?
A infância é uma pátria perdida, um lago congelado
onde adormecidas jazem as ogivas da memória,
o coachar da saparia no banhado em orquestral remanso
de escuridão límpida...?
Contra o azul do céu ergue-se em esplendor ainda,
de possante nave,
a ogiva metálica da Igreja Ortodoxa Bizantina,
no alto da colina da Vila G.
Dobram os sinos dos carreiros daquele bairro pobre,
pulsando suas vielas...
As valetas enormes ladeiam aquelas ruas sulcadas
pelas nossas andanças.
Valetas crateras que a lâmina do tempo
não cerra os olhos de minhas vaganças.
Piso ainda dentro delas e afundo os pés
sobre o areião movediço quase engolida pela língua
das correntezas...
elas comem pelos beirais as dobras dos barrancos,
decepando as raízes mal nascidas, levando os seixos perdidos,
rolando os mós do tempo!
Dobram os sinos, repicam os sinos da Igreja Ortodoxa,
Maria-Ave olha dos meus olhos, mira os céus do bairro pobre,
busca a palavra perdida:
-Céus de Sienkiewicz, de Maiakóviski, de Trevisan,
de Kollody? Quo Vadis minha alma, minha terra,
minha mãe, meu pai, meus irmãos, barro puro do meu chão?
Meu suburbio natal de Curitiba,
das taças ogivas das araucárias,
aparando as geadas com suas cúpulas
convexas a recolher o congelo de orvalho caindo dos céus...
Essas polacas cúpulas redomam a agonia
dos meus gelados ares.
No jardim...acocorada entre os canteiros,
de cravos, crisântemos, mosquitinhos,
dálias, Zocha, simplesmente Sofia, a vizinha
em frente à nossa casa, mãe do polaco lambido Leontcho,
faz as regas da tardinha, enquanto dobram os sinos
da igreja ortodoxa com sua cúpula bizantina,
chamando para a missa a sexta hora.
Os santos ainda estão cobertos!
Afofa a terra com esterco do galinheiro,
enquanto do outro lado da rua, Florami,
mulher do funcionário do Tribunal,
jaz decaída sobre a cerca do portão
procurando na rua o bosquejo da vida...
Seu olhar semi morto desmaia a mesmice
e parece alheio ao brado dos sinos,
escorrendo pela água do bueiro,
pelas valetas desbeiçadas das correntezas de fundo falso...
enquanto do jardim suspenso,
gritam as dálias, os girassóis de Zocha,
mirantes sobre o cadafalso!
Um comentário:
Lilian, querida poetisa da pele que reveste a Terra, visitar seu blog me faz sentir cheiro de terra molhada e de todos os elementos em harmonia, ao mesmo tempo em que todas as épocas se entrelaçam... Eu adoro araucárias, pois como você sugeriu: são cálices. Beijos e linda semana com feriado para você.
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