terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ESTE PRESÉPIO


Pintura/Langue de Morretes
(1953)



Do meu amor eu não o canto a Babel
nem o vejo no delírio do povo
este tabernáculo é quintal
e guarda o meu pé de sabugueiro as floradas
da minha criança
bebo da losna amassada
escrevo com cunha de pinhão e derramo
do cálice esta pinha desfolhada
pinta a manjedoura do céu a pomba a estrela guia da araucária
Este presépio é pastor das minhas ovelhas


FELIZ NATAL!
PRÓSPERO E ABENÇOADO ANO NOVO DE 2011!

Margeandos


foto/Chico Stefanello


O estranho caminhante que passa ao meu lado
não me vê
falamos hemisférios diferentes
nossos olhos tem altos e baixos castanhos
e não podemos ver o céu com o mar na mesma pessoa
nem o sentido oculto das pedras
Ele me olha e eu não consigo vê-lo
Ele me vê e eu não consigo olhá-lo
só nos cumprimentamos
um leve aceno e um sorriso lacônico
e a porta fecha-se
passamos como nossos passos
fico só ouvindo o som do meu tambor
o dele vai tamborilando ao longe
O luar se esfuma atrás dos ramos
entre os nossos olhares cortados
houve a ciência que nada disse

domingo, 12 de dezembro de 2010

Haicai 22






Na voz desta flauta
sobrevive o triste pássaro
na alma da floresta

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Haicais 30/29/28




haicai 30
borboleta negra
engole a luz no deserto
apaga areias


hacai 29
Primavera morta
esparge cinzas das horas
réquiem sem flores


hacai 28

No desfiladeiro
o grito incontido eco
esvazia o verbo

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Haicais 34/33/32





34.
Folha seca ao vento
flutua na morna brisa
o lamento escreve
33.
Borboletas aladas
sopram as flores do tempo
florescem ao vento

32.
Na boca do lírio
a seiva viva lavra
o pólen do verso

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma fábula pode não ser uma fábula


imagem/Alejandra Oviedo

(Líricas de um Evangelho Insano)



Uma fábula pode não ser uma fábula mas a concha do caracol cresce acompanhando as medidas de seu habitante, já disse alguém. O espírito busca experiencialidades e a minha sombra pode ter ressonância. Tudo dorme na semente, o leito, a casa velha, o poeta que se perde pelos labirintos da infância correndo atrás de seu ponto de interrogação. Ponto que brilha em perspectiva do olhar de cada um. A palavra secreta não abre as portas todos os dias e as chaves guardam o armário e seus discípulos...